Educación Física y Ciencia, vol. 25, nº 1, e247, enero - marzo 2023. ISSN 2314-2561
Universidad Nacional de La Plata
Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación
Departamento de Educación Física

Artículos

A desmotivação de estudantes do sexo feminino nas aulas de Educação Física nos anos finais do ensino fundamental

Cícero da Silva Araújo

Universidade Regional do Cariri, Brasil
Luan Gonçalves Jucá

Universidade Federal do Vale do São Francisco, Brasil
Maria Rosângela Dias Pinheiro

Universidade Regional do Cariri, Brasil
Cita sugerida: Araújo, C. da S., Jucá, L. G. y Pinheiro, M. R. D. (2023). A desmotivação de estudantes do sexo feminino nas aulas de Educação Física nos anos finais do ensino fundamental. Educación Física y Ciencia, 25(1), e247. https://doi.org/10.24215/23142561e247

Resumo: O objetivo do presente estudo foi analisar os fatores que contribuem para a desmotivação de estudantes do sexo feminino nas aulas de Educação Física nos anos finais do Ensino Fundamental. Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa e descritiva. Foi aplicado um questionário semiestruturado para 53 estudantes do sexo feminino de quatro escolas da zona urbana da cidade de Iguatu-CE, Brasil. Para a análise e interpretação dos dados foi utilizada a análise temática de conteúdo. Os resultados evidenciaram que aulas realizadas em contra turno, rejeição dos colegas, agressividade dos meninos, cansaço, desinteresse pela disciplina, carência na diversificação de conteúdos e nos métodos de ensino são os principais fatores relacionados a desmotivação. Conclui-se que a desmotivação é caracterizada por fatores que podem ser revertidos com ações curriculares, metodológicas e organizacionais relacionadas as políticas educacionais.

Palavras-chave: Desmotivação, Educação Física, Ensino Fundamental.

The demotivation of female students in Physical Education classes in the final years of elementary school

Abstract: The objective of the present study was to analyze the factors that contribute to the demotivation of female students in Physical Education classes in the final years of Ensino Fundamental (elementary and middle school, students aged 6 to 14). This is a qualitative and descriptive study. A semi-structured questionnaire was applied to 53 female students from four schools in the urban area of ​​the city of Iguatu-CE. Thematic content analysis was used for data analysis and interpretation. The results showed that classes taught in reverse shifts, peer rejection, male student aggressiveness, tiredness, lack of interest in the discipline, lack of diversification of content and teaching methods are the main factors related to demotivation. It is concluded that demotivation is characterized by factors that can be reversed with curricular, methodological and organizational actions related to educational policies.

Keywords: Demotivation, Physical Education, Elementary School.

La desmotivación de las alumnas en las clases de Educación Física en los últimos años de la escuela primaria

Resumen: El objetivo del presente estudio fue analizar los factores que contribuyen a la desmotivación de las alumnas de las clases de Educación Física en los últimos años de Ensino Fundamental (escuela primaria, estudiantes de 6 a 14 años). Se trata de una investigación cualitativa y descriptiva. Se aplicó un cuestionario semiestructurado a 53 alumnas de cuatro colegios del área urbana de la ciudad de Iguatu-CE. Para el análisis e interpretación de los datos se utilizó el análisis de contenido temático. Los resultados mostraron que las clases impartidas en turnos inversos, el rechazo de los compañeros, la agresividad de los chicos, el cansancio, la falta de interés por la disciplina, la falta de diversificación de contenidos y métodos de enseñanza son los principales factores relacionados con la desmotivación. Se concluye que la desmotivación se caracteriza por factores que pueden revertirse con acciones curriculares, metodológicas y organizacionales relacionadas con las políticas educativas.

Palabras clave: Desmotivación, Educación Física, Enseñanza fundamental.

Introdução

A motivação é um elemento necessário na vida do indivíduo, contribuindo na manifestação e estimulação para as tarefas do dia a dia. Tratando-se da motivação para aprendizagem, devem-se analisar os fatores relacionados à cultura, família e o contexto social, aspectos do cotidiano, além da vivência no ambiente escolar (Damasceno; Freitas; Leonardi, 2016).

A motivação manifesta-se nas pessoas através de duas maneiras: a motivação intrínseca e a extrínseca. Guedes e Mota (2016) afirmam que a motivação intrínseca está relacionada à questão de autonomia pessoal, em que o indivíduo participa de uma determinada atividade por espontânea vontade, na qual poderá causar um sentimento de prazer e satisfação. A motivação extrínseca está relacionada à realização de uma atividade não pelo fato de ter afinidade ou ser atraente, mas para atingir um objetivo externo, que varia desde uma recompensa material ou para conquistar status, e até mesmo por querer satisfazer a vontade de outras pessoas.

Ao mesmo tempo, encontra-se inserido junto à motivação o fator oposto, a desmotivação. No que concerne à desmotivação no ambiente escolar, estudos realizados com diferentes disciplinas do currículo escolar apontam como um fator determinante para evasão dos(as) alunos(as) das aulas (Santos et al. 2019; Frota; Xerez; Parente, 2020; Alvarez; Costa; Bongue, 2021; Fin et al. 2019).

Tratando-se sobre a desmotivação de estudantes nas aulas de Educação Física, Marschall (2015) enfatiza que devido ao caráter opcional do(a) professor(a) de Educação Física nas series iniciais de ensino, por vezes, o conteúdo é abordado de maneira superficial no currículo escolar das crianças, desse modo, muitos passam a ter uma visão fragmentada do real sentido da Educação Física.

Consolidando essa afirmação, Sanches (2014) aponta que os motivos contribuintes para que ocorra a desmotivação abrange tanto a falta de recursos didáticos necessários para que se tenha um bom desenvolvimento das aulas, a falta de ambientes apropriados, à ausência de profissionais com formação na área, além de fatores externos à escola como problemas familiares.

No que concerne à realização de pesquisas com essa temática na Educação Básica, notou-se que a maioria dos estudos encontrados foram desenvolvidos com estudantes do ensino médio (Souza et al. 2019; Prado; Oliveira; Oliveira, 2019; Bellúcio; Nascimento; Pieiro, 2021). Os resultados apontaram que à falta de conteúdos diversificados, a repetição dos conteúdos, a falta de criatividade na preparação das aulas, a desvalorização da Educação Física perante as demais disciplinas do currículo, inadequação da postura do(a) professor(a) e a falta de incentivo do(a) docente são fatores que desmotivam os(as) alunos(as) no Ensino Médio nas aulas de Educação Física.

Apenas um estudo foi encontrado fazendo referência a desmotivação nas aulas durante o ensino fundamental. Dutra et al. (2016) realizaram um estudo com objetivo de conhecer as razões pelas quais os(as) estudantes não participam das aulas de Educação Física. O estudo de abordagem qualitativa foi realizado com 44 estudantes do nono ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal de Ensino Fundamental Clemente Pinto no Rio Grande/RS, Brasil. Os resultados apontaram que a falta de materiais didáticos, espaços físicos inadequados, grandes quantidades de alunos(as) por turma e a própria falta de vontade dos(as) estudantes são fatores de desmotivação.

De acordo com as citações anteriores dos(as) autores(as), denota-se que a desmotivação encontra-se em diversos campos que passam por características externas e internas dos(as) estudantes, e uma dessas está associada ao(a) professor(a) e sua maneira de ministrar as aulas, podendo ser um fator contribuinte para atrair ou afastar os(as) alunos(as) de suas aulas. Então, cabe a esse(a) profissional buscar ampliar seus recursos metodológicos para que assim possa trazer os(as) estudantes de volta às aulas. No tocante as estudantes do sexo feminino, tem-se percebido desmotivação em relação às aulas práticas de Educação Física conforme os anos de escolaridade.

Nesse sentido, nenhum estudo na literatura apresenta resultados concretos que apresentem o motivo da evasão do público feminino nas aulas de Educação Física no Ensino Fundamental. Desse modo, torna-se necessário entender os motivos que estão envolvidos nesse processo de distanciamento e elucidar propostas de invenção, promovendo a inserção das alunas nas aulas. Assim sendo, o presente estudo tem o seguinte problema de investigação: quais os fatores que levam as estudantes que cursam os anos finais do ensino fundamental de escolas municipais de Iguatu-CE, Brasil a se sentirem desmotivadas em relação às aulas de Educação Física?

Justifica-se este trabalho pela possibilidade de trazer reflexões que possibilitem ressignificar esse componente curricular, agregando informações que colaborem para que as estudantes se sintam estimuladas a participarem das aulas, ao mesmo tempo, contribuir para que os(as) docentes de Educação Física possam redimensionar suas práticas pedagógicas no que se referem a conteúdos selecionados, metodologias aplicadas e avaliações, possibilitando questionamentos e discussões sobre a prática docente, e aos(as) acadêmicos(as) que serão futuros(as) professores(as) das escolas para que possam repensar estratégias que motivem as alunas a participarem das aulas.

Destarte, o objetivo do presente estudo foi analisar os fatores que contribuem para a desmotivação de estudantes do sexo feminino nas aulas de Educação Física nos anos finais do Ensino Fundamental.

Metodologia

O estudo caracteriza-se como uma pesquisa de natureza qualitativa e descritiva. Minayo (2002) afirma que a pesquisa qualitativa busca compreender a realidade dos fatos através do contato direto entre os grupos, rotinas e hábitos, tem por característica responder questões relacionadas aos contextos sociais e culturais dos indivíduos. A pesquisa descritiva, descreve as características de certa população, ou de um acontecimento, ou ainda estabelecer relações entre variáveis (Gil, 2008).

O cenário da pesquisa compreendeu as escolas da zona urbana da rede municipal de ensino da cidade de Iguatu-Ceará, Brasil que contemplam os anos finais do ensino fundamental. As escolas da zona rural não foram contempladas por dificuldades de acesso. Na zona urbana existe um total de 12 escolas que ofertam o Ensino Fundamental nos anos finais. Dessas, foram selecionadas quatro para o estudo e a escolha se deu pelos seguintes critérios: duas escolas localizadas nos bairros centrais da cidade e duas em bairros periféricos; aquelas que possuem maior quantitativo de alunos matriculados.1 A pesquisa foi realizada com 53 estudantes matriculadas nos anos finais do Ensino Fundamental e que frequentam as aulas teóricas de Educação Física.

Foram adotados como critérios de inclusão: a) estudantes do sexo feminino de escolas da rede pública do município de Iguatu- CE; b) estarem regularmente matriculadas nos 8° e 9° anos, nos turnos manhã ou tarde; c) não participam das aulas práticas de Educação Física. A identificação da não participação das estudantes nas referidas aulas se deu junto ao professor da disciplina, em que foram analisadas as frequências dos últimos dois meses anteriores a data de realização da pesquisa. Como critérios de exclusão: a) estudantes que desistiram de responder o questionário ou não responderam completamente as indagações; b) estarem respaldados com laudo médico, comprovando sua incapacidade física ou mental de realizar as aulas de Educação Física.

O instrumento utilizado para a coleta das informações foi um questionário semiestruturado contendo 08 questões abertas e fechadas elaborado pelos pesquisadores e pela pesquisadora, a fim de desvendar os motivos pelos quais as estudantes não participam das aulas práticas de Educação Física.

Para a análise e interpretação dos dados foi utilizada a análise temática de conteúdo (Bardin, 2011). Segundo a autora, a análise de conteúdo pode significar um grupamento de técnicas de interpretação de informações, objetivando a obtenção por métodos organizados e propósitos de definição do conteúdo das mensagens. Esse método de organização dos dados é dividido em três etapas: a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados, a interferência e interpretação.

Essa pesquisa está amparada pela Resolução N° 466, de 12 de dezembro de 2012 (Brasil, 2012) e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Regional do Cariri (URCA), nº 3.635.320 e o CAEE nº 21277019.0.0000.5055.

Resultados e discussão

Os participantes da pesquisa foram codificados em letras e números (A1, A2, A3...) para respeitar o anonimato dos mesmos. Os dados do estudo foram expostos através de categorias e apresentados por meio de diagramas. As categorias para discussão são as seguintes: motivos para a não participação nas aulas práticas de Educação Física; fato ocorrido que fez não querer participar das aulas práticas de Educação Física; fatores motivacionais para a participação nas aulas práticas de Educação Física.

Motivos para a não participação nas aulas práticas de Educação Física

Essa categoria tem como objetivo identificar os motivos para a não participação das estudantes nas aulas práticas de Educação Física. Assim sendo, foram encontrados os seguintes eixos categóricos: horário, morar distante, atestado médico e desmotivação. Como apresentados no diagrama a seguir:

FIGURA 1
Exposição dos motivos para a não participação nas aulas de Educação Física
Exposição dos motivos para a não participação nas  aulas de Educação Física
Fonte: Elaboração dos autores (2022).

O eixo categórico horário abrange os seguintes conteúdos temáticos: contra turno, preguiça, acordar cedo e falta de tempo. Como destacadas nas falas a seguir:

  1. Porque moro longe, daí não tenho como vir, pois é em contra turno. Se fosse o mesmo horário que estudo eu participaria (E25).

  2. Porque muitas vezes não acordo cedo e também fico com preguiça (E19)

  3. Por causa do horário, eu não gosto de acordar cedo e nem tenho tempo (E30)

  4. Porque não tenho tempo e ultimamente acabo não participando, mas já participei e gosto muito (E5).

Diante das narrativas, identifica-se que as participantes abordaram diferentes fatores para justificar a evasão nas aulas de Educação Física. Um deles está associado a realidade das aulas serem ministradas em um período diferente daquele que as discentes estudam, conforme elucida a aluna E25. Dessa forma, nota-se que algumas instituições fragmentam as aulas de Educação Física em teóricas e práticas, dando uma maior ênfase as aulas teóricas, visto que são realizadas no horário comum de estudo das estudantes. Desse modo, possibilita um entendimento de uma aula prática com características opcionais, sendo passível de escolha das estudantes em comparecer ou não a aula.

Outros fatores apresentados pelas discentes E19 e E30, que contribuem para a não participação nas aulas práticas, estão associados ao fato de não gostarem de acordar cedo e falta de ânimo quando se trata de aulas que necessitem de um maior esforço físico das estudantes. Já a aluna E5 enfatiza que, mesmo tendo afinidade com a disciplina, não tem disponibilidade de tempo por ter outros afazeres no horário em que são realizadas as aulas, tornando, portanto, sua presença inviável.

De acordo com as justificativas apresentadas por algumas das participantes, em relação aos motivos que induzem a não participação, pode-se perceber que o fato do desenvolvimento das aulas práticas acontecerem em contra turno, tem influenciado a evasão das alunas da disciplina, impossibilitando a participação das mesmas. Considerando-se que nem todas dispõem de condições favoráveis para retornarem à escola, torna-se essencial a realização das aulas práticas ocorram em período regular.

Darido et al. (1999) afirmam que um dos elementos que contribui para o afastamento de estudantes das aulas de Educação Física é o horário invertido desse componente curricular, uma vez que, por vezes, são realizadas em um turno diferente dos outros componentes da educação básica. Consequentemente, acaba por dificultar a presença de estudantes que moram distantes, assim como daqueles que trabalham. Dessa forma, deixando a Educação Física desvalorizada, por ser o único componente a seguir esse formato.

Assim, percebe-se que a forma como as aulas são ministradas acabam se tornando uma problemática no que diz respeito à participação das estudantes nas aulas de Educação Física e das dificuldades enfrentadas pelo fato do horário ser diferente dos demais componentes curriculares. Nesse sentido, cabe aos(as) gestores(as) educacionais refletirem sobre essa questão, buscando soluções para que o componente se torne mais acessível em relação ao horário e tenha uma participação efetiva das estudantes.

Na subcategoria morar distante foram retratados os seguintes elementos temáticos: afazeres domésticos e falta de transporte, como pode identificar nas seguintes narrativas:

  1. Porque meus dias são muito corridos, tenho que cuidar da casa e de minha irmã enquanto minha mãe trabalha (E10).

  2. Porque eu moro muito longe e venho de ônibus e ele não passa no horário da aula prática (E11).

  3. Porque moro longe da escola e não tem como vir, eu também tenho que ajudar em casa (E53).

Conforme as narrativas, é possível identificar que as causas pelas quais ocorre a não participação nas aulas práticas da Educação Física são decorrentes de fatores que não estão relacionados diretamente à forma que essas aulas são lecionadas, mas de fatores externos à escola e à disciplina. Conforme a fala da estudante E10 que ajuda nos serviços domésticos, arrumar casa e/ou cuidar de parentes menores, enquanto, provavelmente, os pais estão trabalhando. Ou ainda, as estudantes E11 e E53 ressaltam a falta de transporte para levá-las até a aula, tendo em vista, residirem distante da instituição escolar.

Nesse sentido, nota-se que os fatores sociais e econômicos influenciam na participação das alunas durante as aulas. Percebe-se que algumas alunas cumprem a função de alguns dos seus familiares para que os demais possam trabalhar. Millen Neto et al. (2010) esclarece que problemas econômicos e sociais contribuem para que o estudante permaneça ou não no ambiente escolar, e que, aqueles que possuem uma renda familiar inferior tem maior chance de abandonar a escola.

No eixo categórico denominado atestado médico foram destacados os conteúdos temáticos: dores nas costas, problema de coluna e enjoo. Tais justificativas podem ser conferidas nas narrativas abaixo:

  1. Por conta de problemas de dores nas costas (E41).

  2. Porque tenho atestado médico de problema de coluna (E42).

  3. Por alguns problemas como o enjoo causado pela ansiedade (E43).

Em conformidade com o que foi explanado nas falas, as causas contribuintes para a ausência nas aulas práticas de Educação Física derivam de fatores relacionados a problemas de saúde, como dores apresentadas em partes do corpo e sensação de mal estar em consequência de transtorno de ansiedade. Em decorrência desses fatores, torna-se dificultosa a realização das atividades propostas pelo(a) professor(a), sendo, portanto, necessário o afastamento assegurado por constatação médica das práticas de Educação Física.

Nessa perspectiva, Ohlweiler e Isse (2016) ressaltam que são concedidos o direito à dispensa das aulas práticas de Educação Física, de forma temporária, por meio da comprovação de atestado médico todo e qualquer aluno(a) que apresente algum tipo de enfermidade que coloquem em risco sua integridade física durante a aula.

Na subcategoria nomeada de desmotivação foram significativas as seguintes unidades temáticas: não aceitação dos colegas e agressividade dos meninos. Conforme enfatizadas nas narrativas subsequentes:

  1. Porque os meninos da minha sala não deixam (E1).

  2. Porque além de ser muito longe da minha casa, também os meninos são muito agressivos (E12).

Um dos fatores para a ausência nas práticas de Educação Física, conforme a aluna E1, está relacionado a atitudes de rejeição apresentadas pelos meninos acerca da participação do gênero feminino nas práticas corporais contempladas nas aulas. Isso por acreditarem que mulheres não sejam capazes de se envolver e/ou apresentar o mesmo desempenho dos homens na realização das atividades, contribuindo para o afastamento das meninas na Educação Física. Outro fator destacado pela educanda E12, diz respeito a atitudes hostis apresentadas também por estudantes do sexo oposto durante o desenvolvimento das atividades.

As atitudes dos meninos em relação às meninas só mostra que ainda se vive em uma sociedade que carrega uma cultura machista e preconceituosa, que os fazem ter um pensamento conservador de que as mulheres são menos capazes que os homens, isso se deve ao fato de que, conforme Cruz e Palmeira (2009), as mulheres sempre assumiram papéis secundários em diferentes áreas na sociedade, em comparação aos homens, e essa superioridade obtida pelo sexo masculino vem de uma formação cultural que se deu de diferentes maneiras de ensinar a homens e mulheres, o que consentiu habilidades e competências peculiares a cada sexo.

Nesse contexto, é de suma importância a intervenção do(a) professor(a) com o objetivo de romper com o pensamento de superioridade dos alunos sobre as alunas. Sendo necessário debates e discussões sobre a temática de gênero dentre das aulas de Educação Física, objetivando desconstruir o pensamento de que determinadas práticas corporais são para alguns grupos específicos. Podendo utilizar de estratégias para tornar sua aula inclusiva em que todos e todas possam participar independente de suas potencialidades.

Tratando-se ainda da subcategoria desmotivação foram relevantes as seguintes unidades temáticas: desinteresse, vergonha e repetição dos conteúdos e métodos, conforme verifica-se nas narrativas abaixo:

  1. Porque não acho legal, apesar de fazer muito bem para a saúde (E21).

  2. Porque eu tenho vergonha e não sei praticar Educação Física (E27).

  3. Porque é sempre do mesmo jeito, a mesma coisa, as mesmas brincadeiras, daí não tenho nem vontade de participar (E49).

A falta de interesse pelas aulas do componente curricular foi destacada pela participante E21 como o motivo pelo qual tem deixado de frequentá-las, mesmo demonstrando ter conhecimento dos benefícios que a Educação Física proporciona em relação a saúde dos(as) estudantes. Levando, assim, a acreditar que o desinteresse tem sido pelo fato de não gostar da forma como as aulas são ministradas, ou mesmo não gostar de praticar atividade física.

A aluna E27 ressalta que não participa das aulas por se sentir constrangida durante o desenvolvimento das atividades. Uma vez que, na Educação Física, o corpo está constantemente em exposição, isso pode causar timidez e desconforto a algumas participantes, principalmente àquelas que tem uma percepção negativa da própria imagem corporal.

A aluna E27 enfatiza não saber realizar as atividades de forma correta, o que possivelmente tenha gerado motivo de zombaria e críticas por parte dos colegas, contribuindo na decisão de evadir-se das aulas. Para Tenório e Silva (2013) é comum conhecer pessoas que demonstrem desinteresse para as práticas corporais da Educação Física, em virtude de situações negativas vivenciadas dentro da escola, principalmente acerca das práticas esportivas, seja porque tenha passado por momentos frustrantes de preconceitos ou até mesmo se sentir inferior aos(as) colegas por não conseguir realizá-las.

A participante E49 menciona a falta de diversidade nos métodos de ensino e nos conteúdos contemplados como o principal motivo para a desmotivação e evasão da disciplina, fazendo alusão a repetitividade das atividades ministradas pelo professor e, dessa forma, não sente vontade alguma em participar.

Diante do exposto, entende-se a importância do(a) professor(a) constantemente repensar sua prática pedagógica, rever os métodos utilizados, desenvolver discussões com as estudantes em relação ao conteúdo e diferentes possibilidades de aplicá-los. Conhecer o que tem motivado as estudantes a abandonar as aulas, planejar as atividades contemplando diferentes práticas corporais e não restringi-las somente a uma dessas práticas, evitando a repetição de conteúdo, com intuito de atrair as alunas para suas aulas.

Destarte, no decorrer dos anos de escolaridade é perceptível a falta de interesse de estudantes pela disciplina de Educação Física e, consequentemente, a não participação por, frequentemente, depararem-se com aulas repetitivas, com dominação do conteúdo esportes, em que são trabalhados modelos de alto rendimentos, influenciados pela mídia, e em alguns casos, sem nenhuma orientação pedagógica acerca dessas aulas (Tenório; Silva, 2013).

Essa categoria tratou de expor os motivos para a não participação das estudantes nas aulas práticas de Educação Física. Sendo assim, as participantes apontaram diferentes motivos como: aulas em contra turno, preguiça para a prática de atividades físicas, não gostar de acordar cedo, indisponibilidade de tempo, afazeres domésticos, falta de transporte, problemas de saúde, não aceitação dos colegas, agressividade dos meninos, cansaço, desinteresse pela Educação Física, vergonha em realizar as atividades e a repetição dos métodos e conteúdo.

Fato ocorrido que fez não querer participar das aulas de Educação Física

O propósito da presente categoria é verificar se ocorreu algum fato durante as aulas que tenha contribuído para a não participação das estudantes nas aulas práticas de Educação Física. Sendo assim, foram formulados os eixos categóricos, ocorreram fatos e não ocorreram fatos, como pode-se analisar no diagrama abaixo

FIGURA 2
Apresentação dos fatos contribuintes para a não participação nas aulas de Educação Física
Apresentação dos fatos contribuintes para a não  participação nas aulas de Educação Física
Fonte: Elaboração dos autores (2022).

No eixo categórico ocorreram fatos foram destacados os seguintes elementos temáticos: machismo, críticas de colegas, incidentes e restritas ao futebol. Sobre esses fatos é possível observar nas narrativas das estudantes:

  1. Os meninos são muito machistas (E12).

  2. Dependendo do esporte praticado muitas pessoas são mais experientes, e muitas vezes aquela pessoa que sabe menos é criticada. Isso já aconteceu comigo. Daí não dá vontade de vir participar das aulas práticas (E15).

  3. Levei boladas várias vezes (E24).

  4. Porque muitas vezes querem apenas jogar futebol e eu não vou (E28).

A partir da análise das narrativas, verifica-se que entre os fatos ocorridos que fizeram as estudantes deixarem de comparecer às aulas práticas de Educação Física estão o comportamento machista apresentado pelos estudantes do sexo oposto, como relata a estudante E12 e as críticas negativas recebidas por parte de alguns colegas, citado por E15, certamente em decorrência da falta de habilidades em relação a alguns esportes, que por vezes deriva da falta de experiência, já que, culturalmente em comparação aos meninos, as oportunidades de vivências das meninas em algumas práticas esportivas são limitadas.

Diante das situações retratadas, o(a) professor(a) precisa estar atendo aos casos de condutas preconceituosas e repressivas de alguns alunos em relação às colegas, buscando evitar esses tipos de comportamentos em suas aulas, o que resulta na evasão das aulas desse componente. Trabalhar a conscientização, enfatizando o respeito independente de classe social, sexo, cor, crença, nível de habilidades e conhecimentos, pois, ser humano nenhum deve ser menosprezado por ter menos experiência em uma determinada prática.

Em consonância, Marçal (2019) aponta que a intervenção do docente é imprescindível para que a sala de aula não se transforme em um lugar de construção e reprodução de comportamentos discriminatórios, e sim, de igualdades de oportunidades. Sendo que, o ambiente escolar deve propiciar conhecimentos que distanciem-se de um espaço responsável por contribuir expressivamente na conservação de padrões instituídos pela sociedade.

As participantes E24 e E28 apresentaram respectivamente como aspectos determinantes para se ausentarem das práticas da disciplina o fato de ter sido vítima de incidência de “boladas” durante o desenvolvimento das atividades e a problemática de que, na maioria das aulas, os alunos quererem somente praticar o futebol, deixando a aula restrita a esse tipo de prática.

Dessa forma, compreende-se que os estudantes foram construindo culturalmente um pensamento que as aulas de Educação Física é momento que utilizam para jogar bola, um “racha”. Diante desse entendimento limitado sobre o componente, faz-se necessário que o(a) professor(a), mesmo com a resistência por parte de alguns(mas) estudantes, proponha diferentes vivências da cultura corporal de movimento. Assim, mostrando-lhes que o futebol é apenas um conteúdo, dentre vários outros, presentes na Educação Física escolar.

Atualmente, os(as) professores de Educação Física tem a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para se nortearem em relação aos conteúdos que devem ser ministrados durante o percurso do ensino fundamental, bem como as habilidades e competências que devem ser desenvolvidas pelos alunos. Os conteúdos são objetos de conhecimentos que devem ser trabalhados dentre de seis unidades temáticas: jogos e brincadeiras, esportes, danças, lutas, ginasticas e práticas corporais de aventura (Brasil, 2017).

Nesse sentido, existen muitos conteúdos que podem ser trabalhados nas aulas de Educação Física, não há espaços para uma única prática hegemônica e nem somente uma única estratégia de ensino que valoriza alguns(mas) estudantes em detrimento aos(as) demais. Cabe ao(a) professor(a) promover um espaço inclusivo em que os(as) alunos(as) reflitam criticamente sobre as práticas corporais que desenvolvem cotidianamente.

Em se tratando da subcategoria, não ocorreram fatos, foram significativos os conteúdos temáticos que se seguem: doença, horário e preguiça. Sobre esses fatos, identificam-se nas seguintes narrativas:

  1. Só por causa do problema de coluna (E42).

  2. Só o horário mesmo, porque estudo e trabalho aí fica muito corrido e cansativo (E13).

  3. Gosto muito das aulas, porém não tenho disposição para vir (E16).

  4. Na verdade, é só preguiça, porque as aulas são de manhã cedo (E48).

Conforme as narrativas, percebe-se que não houve fatos isolados ou significativos ocorridos nas aulas que viessem impossibilitar as estudantes de participarem. Mas, são motivos que já foram expostos em categoria anterior, decorrentes de problemas de saúde, tempo indisponível para o comparecimento às aulas, por ter que realizar outros afazeres e a falta de disposição em acordar cedo.

Ainda, no que concerne à subcategoria denominada não ocorreram fatos foram expressivas como justificativas das estudantes para a não participação nas aulas as seguintes unidades temáticas:falta de transporte e falta de inovação nas aulas. Sendo assim, pode-se observar nas narrativas abaixo:

  1. É porque não tenho como ir (E36).

  2. Não especificamente, só não gosto porque é sempre do mesmo jeito (E49).

A participante E36 destaca que o fator determinante para o seu afastamento da Educação Física provém da falta de transporte, considerado meio necessário para chegar ao local onde são realizadas as aulas. Assim como também dificulta o acesso à instituição para efetuar atividades distintas, necessárias aos(as) estudantes, como realizar pesquisas, participar de projetos, entre outras atividades (Silva; Silva; Paula, 2016). De acordo com a estudante E49, a falta de inovação nos métodos de ensino do professor ao aplicar os conteúdos contribui para a desmotivação e o processo de evasão das aulas nesse componente curricular.

Nesse sentido, a postura que o(a) professor(a) assume frente as aulas de Educação Física é fundamental na decisão dos(as) alunos(as) de permanecerem ou não nas aulas práticas. É necessário aprender a lidar com aqueles mais interessados, mas também, com os(as) que demonstrem desmotivação diante das aulas, procurando a maneira mais adequada para solucionar esse empecilho (Tenório; Silva, 2013).

A categoria em questão, objetivou verificar os fatos para a não participação das alunas nas aulas práticas de Educação Física. Desta forma, as participantes que disseram sim apresentaram justificativas ligadas aos comportamentos machistas, críticas recebidas dos colegas, incidentes durante as aulas e restrição a uma prática de esporte.

Por outro lado, as estudantes que afirmaram não ter acontecido um fato isolado durante as aulas que vinculasse à desmotivação e ausência nas práticas da disciplina, atribuíram a causa da não participação, empecilhos como: problemas de saúde, horário inadequado, preguiça de ir às aulas de manhã cedo, falta de transporte e ausência de aulas diferentes.

Fatores motivacionais para a participação nas aulas práticas de Educação Física

A presente categoria tem como objetivo identificar e apresentar os fatores que motivariam as discentes a participarem das aulas práticas de Educação Física. Diante disso, foram constituídos os seguintes eixos categóricos: necessidade de mudanças, proximidade com a escola e igualdade. Conforme exposto no diagrama abaixo.

FIGURA 3
Exposição dos fatores motivacionais para as aulas práticas de Educação Física
Exposição  dos fatores motivacionais para as aulas práticas de Educação Física
Fonte: Elaboração dos autores (2022).

No eixo categórico denominado necessidade de mudanças foram expressivos os seguintes elementos temáticos como motivos para a uma possível participação nas aulas práticas de Educação Física: horário acessível, período regular e não ter afazeres domésticos. Como pode-se perceber nas narrativas evidenciadas abaixo:

  1. Se fosse em um horário que eu pudesse ir (E5).

  2. Se as aulas práticas fossem em um horário mais acessível (E46).

  3. Se as aulas práticas fossem no mesmo horário das outras aulas (E19)

Mediante os relatos apresentados, identifica-se que algumas participantes expuseram como motivos para a participação nas aulas práticas de Educação Física a mudança no horário, assim como o período em que são ministradas. Tais mudanças facilitariam o acesso das estudantes, já que o atual horário e período que acontecem as aulas, não há aulas práticas, somente aulas teóricas, conforme pode-se notar nas narrativas.

Sendo assim, é notório que o fato da aula ser lecionada no contra turno tem promovido obstáculos e, consequentemente, tem contribuído para a evasão e o não comparecimento nas aulas práticas de Educação Física.

  1. Participaria se eu não tivesse obrigações em casa [...] (E4).

Conforme especificado pela estudante E4, a sua participação na disciplina seria possível, se não tivesse que fazer trabalhos domésticos no horário em que as aulas são ministradas. Isto ocorre pelo fato de ajudar nos afazeres de casa no turno oposto ao que se encontram matriculadas, enquanto seus pais ou responsáveis trabalham, sendo um empecilho em comparecer na instituição escolar para participar das aulas de Educação Física.

Deste modo, observa-se que a não participação nas aulas se deve não apenas a falta de motivação pelo componente, mas, é inerente à fatores que indiretamente impossibilitam o comparecimento às aulas, como horário inacessível, aulas em turnos diferentes e realização de tarefas domésticas que acabam tirando o tempo que a aluna deveria estar na Educação Física.

Complementando a subcategoria denominada necessidade de mudanças foram retratadas ainda as seguintes unidades temáticas: não apresentar problemas de saúde, perder a timidez, aulas interessantes e conteúdos diversificados. As quais é possível verificar nas exposições das narrativas:

  1. Eu só não participo por questões de doença (E42).

  2. Não ter vergonha e mais amigos e se fosse à tarde (E27).

  3. Ter mais aulas legais e interessantes (E37)

  4. Diversidade tanto nas aulas quanto no que passar, [...] aulas interessantes, entre outras coisas (E21).

  5. Se tivesse mudanças, mais jogos, mais brincadeiras, mais dinâmicas, coisas diferentes (E49).

Os motivos expostos pelas discentes que lhes proporcionariam motivação quanto a participação nas aulas de Educação Física decorrem de não apresentar problemas de saúde para a realização das atividades propostas, assim como, vencer a timidez para participar das práticas juntamente com a turma.

Silva et al. (2016) explanam que no ambiente escolar defronta-se com estudantes tímidos(as) que não gostam de se expor, e outros(as), extrovertidos(as), que são mais sociáveis. Essa variedade de personalidades está em todos os ambientes, integrando o dia a dia das pessoas e favorecendo as relações interpessoais. Todavia, o fato de que na Educação Física o indivíduo se expõe constantemente, o que deveria ser algo comum, poderá ter implicações negativas e influenciar na participação de estudantes nas aulas.

Outros fatores contribuintes na motivação para as práticas inclui modificações na forma como o professor faz a abordagem de suas aulas e a diversificação dos conteúdos. Podendo utilizar-se de atividades atrativas e inovadoras, que possam despertar nas estudantes o interesse pelas práticas corporais que compõem a disciplina e, assim, sintam-se motivadas perante as aulas de Educação Física.

Drews et al. (2011) afirman que o(a) professor(a) de Educação Física também é responsável pela desmotivação dos(as) estudantes, dado que, os métodos escolhidos para desenvolver as aulas, seu relacionamento com os(as) alunos(as), assim como os conteúdos contemplados, são fatores que corroboram para que os(as) estudantes participem ou deixem de participar das aulas. Os(as) autores(as) frisam que o conteúdo tem grande influência nas aulas e que na Educação Física muitas vezes, é predominantemente relacionado as modalidades esportivas, favorecendo a desmotivação para a participação daqueles(as) que não têm nenhuma afinidade com os esportes.

Maldonado (2020) ressalta que práticas inovadoras nas aulas de Educação Física são fundamentais para o processo de ensino e aprendizagem. O autor enfatiza que professores(as) que inovam:

“ Possuem um caráter intencional, sistemático e planejado da prática pedagógica; Relacionam as suas ações didáticas com teorias diversas, trazendo à tona elementos de reflexão, criticidade e criatividade; Compreendem a escola como um espaço de formação continuada; Buscam uma gestão de aula democrática, envolvendo os alunos e as alunas como sujeitos ativos do processo educativo; Incentivam a criação de vivências e experiências dos/das estudantes nas aulas que não se resumem à reprodução de movimentos estereotipados; Tematizam diversificadas manifestações da cultura corporal levando em conta os aspectos fisiológicos, biológicos, históricos, econômicos, políticos, sociais e culturais, que se relacionam com as danças, lutas, esportes, ginásticas, jogos e brincadeiras; Relaciona a sua prática pedagógica com o projeto político-pedagógico da escola; Problematizam as relações de gênero, raça, classe, religião, dentre outros marcadores sociais, que atravessam as práticas corporais; Estimulam a participação de todos os alunos e todas as alunas em suas aulas; Resolvem os conflitos que acontecem nas aulas por meio de um diálogo franco e aberto; e, por fim, Participam dos órgãos colegiados da escola e das reuniões pedagógicas com a intencionalidade de contribuir com os projetos desenvolvidos por outros docentes e gestores” (Maldonado, 2020, p. 23).

Nesse sentido, entendemos que os professores de Educação Física devem sistematizar, estruturar e refletir sobre sua prática pedagógica, tendo como finalidade propiciar um ambiente de aprendizagem em que todos(as) possam interagir e aprender, traçando estratégias que incluam e coloquem os(as) estudantes no centro do processo de ensino e aprendizagem. Devendo problematizar o maior número possível de experiências corporais, objetivando a fruição e apropriação das atividades, dando-lhes autonomia e discernimento em suas escolhas.

No tocante a subcategoria proximidade com a escola foram destacados os seguintes conteúdos temáticos: ter transporte, próximo à residência. Como pode-se identificar nas narrativas subsequentes:

  1. Se tivesse transporte para me buscar em casa e ir deixar (E3).

  2. Só não venho porque moro muito longe, mas se essa não fosse a questão eu viria todos os dias se fosse preciso (E35).

  3. Se fosse mais perto de casa com certeza eu iria, porque eu amo educação física (E20).

Desse modo, torna-se necessário repensar uma proposta de adequação curricular que possibilite a Educação Física ser efetivamente ministrada no período regular, visando acabar com os obstáculos retratados pelas alunas que tem lhes impedem de participar das aulas. Visto que, a maioria dos empecilhos surgem a partir dessa demanda inicial de alteração no turno das aulas.

Feitosa et al. (2011) constataram em seu estudo, que independente do sexo, nas escolas que as aulas são ofertadas em contra turno a participação é expressivamente inferior à de escolas que a Educação Física acontece no turno regular. Contudo, os autores e a autora apontam que esse resultado era esperado, tendo em vista que, alguns(mas) alunos(as) moram longe e dependem de transporte para retornar à escola, o que dificulta frequentar as aulas em período oposto. Assim, a Educação Física que é um componente curricular obrigatório aos poucos está se tornando optativa, devido à organização de alguns instituições de ensino.

Destarte, como ressaltado por Maldonado (2020) surge a necessidade do(a) professor(a) intervir nesse processo, sendo um(a) participante assíduo(a) no planejamento pedagógico escolar, mostrando a importância desse componente curricular para a construção cultural e social dos(as) estudantes, enfatizando uma postura integra e inflexível sobre a necessidade dos(as) alunos(as) realizarem as aulas de Educação Física.

Em relação à subcategoria designada igualdade, foi destacado a unidade temática sem distinção de gênero. Conforme é possível identificar no relato da participante:

  1. [...] igualdade entre os sexos masculinos e femininos, porque futebol também é coisa de menina (E12).

De acordo com a participante E12, o que a motivaria quanto às aulas práticas de Educação Física seria não haver distinção entre os sexos, deixando de existir tratamento diferenciado para meninos e meninas nas práticas corporais contempladas nas aulas, especificamente em relação aos esportes. Assim, permitiria oportunidades iguais de vivências a ambos os sexos, e acabaria, ou pelo menos, minimizaria a concepção de que determinada prática é específica ao sexo masculino, e outra, ao feminino.

Esse estereótipo que talvez seja enfatizado de forma mais acentuada na disciplina Educação Física, provém dos colegas, e em alguns casos do(a) próprio(a) docente que, por vezes, acaba assumindo uma postura excludente, quando deveria possibilitar que os(as) alunos(as), independente de sexo, compartilhem das mesmas experiências acerca das práticas corporais, pois como a própria aluna frisou, o “futebol”, assim como outras práticas esportivas, não é somente prioridade dos meninos.

Cruz e Palmeira (2009) ressaltam que a Educação Física pode colaborar através de uma cultura distorcida em uma possível relação de superioridade dos meninos em comparação às meninas quando classifica como a prioridade a exigência técnica dos movimentos nas aulas, que possivelmente advém de quantidades maiores de experiências obtidas ao longo da vida.

Matos et al. (2016) advertem que ainda é possível deparar-se na Educação Física com atitudes discriminatórias vigorantes na sociedade nos dias atuais, em que as aulas são segregadas de acordo com o sexo, por compreender-se que os(as) estudantes apresentam desempenhos distintos apenas por serem de sexos diferentes.

Essa categoria teve como objetivo identificar e apresentar os fatores que motivam as estudantes a participarem das aulas práticas de Educação Física. Dessa forma, foram obtidos os seguintes resultados: o horário acessível, aulas no período regular, não realizar atividades domésticas no horário das aulas, ter transporte para ir as aulas, a escola ser próxima à residência e não existir tratamento diferenciado entre gêneros.

Considerações finais

A desmotivação é um aspecto que se faz presente na vida escolar de estudantes do sexo feminino nas aulas de Educação Física no ensino fundamental, sendo intensificada pela contribuição de diferentes fatores, conforme foram expostos no desenvolvimento dessa pesquisa. Deste modo, objetivou-se analisar os fatores que contribuem para a desmotivação de estudantes do sexo feminino nas aulas de Educação Física nos anos finais do Ensino Fundamental.

Destarte, os fatores apontados pelas estudantes que colaboram para a desmotivação e consequentemente levaram as estudantes a evadirem-se das aulas práticas desse componente curricular: aulas realizadas em contra turno; acordar cedo; desânimo para a prática de atividades físicas; indisponibilidade de tempo por ter outros afazeres no horário das aulas; falta de transporte para levá-las às aulas de Educação Física; problemas de saúde (dores em partes do corpo e sensação de mal estar causada pela ansiedade), rejeição dos colegas, agressividade dos meninos, cansaço, desinteresse pela disciplina, carência na diversificação de conteúdos e nos métodos de ensino.

Em relação a possíveis mudanças que poderiam ocorrer para uma possível alteração dessa realidade, as estudantes mencionam que a realização de aulas práticas no horário regular, uma maior diversificação dos conteúdos e um tratamento igualitário para meninos e meninas nas aulas, gerariam mais possibilidades de participação.

Diante os resultados, sugere-se que outros trabalhos sejam desenvolvidos com estudantes do sexo feminino, na perspectiva de se aprofundar ainda mais sobre a temática nesse nível de ensino e também no ensino médio, visto que, diante da busca por artigos, periódicos, percebeu-se uma carência de estudos com esse público. Assim, expandir o estudo a outras escolas da rede pública e/ou privada na busca por outros resultados, fazendo análise entre escolas públicas e privadas e se existe diferença significativa na desmotivação das estudantes.

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Notas

1 Secretaria Municipal de Educação de Iguatu-Ceará.

Recepción: 19 Febrero 2022

Aprobación: 30 Diciembre 2022

Publicación: 01 Febrero 2023

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