Educación Física y Ciencia, vol. 24, nº 3, e230, julio-septiembre 2022. ISSN 2314-2561
Universidad Nacional de La Plata
Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación
Departamento de Educación Física

Artículos

Comparação do VO2 de pico relativo e alométrico em adolescentes sob diferentes condições de treinamento de Futebol de campo

Rodrigo Cambiaghi

Prefeitura Municipal de Hortolândia, Brasil
Jefferson Eduardo Hespanhol

Prefeitura Municipal de Campinas, Brasil
Charles Ricardo Lopes

Faculdade de Educação Física, Pontifícia Universidade Católica de Campinas / Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP), Brasil
Marco Cossio-Bolaños

Universidad Católica del Maule, Chile
Rossana Gómez-Campos

Universidad Católica del Maule, Chile
Anderson Marques De Moraes

Faculdade de Educação Física, Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Brasil
Cita sugerida: Cambiaghi, R., Hespanhol, J. E., Lopes, C. R., Cossio-Bolaños, M., Gómez-Campos, R. y De Moraes, A. M. (2022). Comparação do VO2 de pico relativo e alométrico em adolescentes sob diferentes condições de treinamento de Futebol de campo. Educación Física y Ciencia, 24(3), e230. https://doi.org/10.24215/23142561e230

Resumo: O consumo máximo de oxigênio (VO2pico) é utilizado em estudos com adolescentes para relacionar a aptidão física ao estado de saúde, e, na área do treinamento esportivo, para a prescrição e avaliação de programas de treinamento. O objetivo do presente estudo foi verificar o VO2pico em adolescentes praticantes de Futebol de campo observando o tipo de treinamento e o tamanho corporal. A amostra foi composta por 116 adolescentes masculinos, idade entre 12 e 15 anos, divididos em três grupos, o Grupo Controle (GC; n=45), o Grupo de Esporte Educacional (GEE; n=45) e o Grupo de Atletas de Futebol (GAF; n=26). Foram avaliadas a estatura e a massa corporal. O Yo-YoIntermittent Endurance Test foi utilizado para avaliar o VO2pico. Foi utilizada a ANOVA (one way), para determinar as diferenças intergrupos. O VO2pico foi ajustado alometricamente pelo expoente de -0,67. Inicialmente observou-se melhor desempenho aeróbio do grupo GEE em relação ao GED. Após o ajuste alométrico, os resultados apontaram para o melhor desempenho do GAF em relação ao GED e GEE. Conclui-se que para se avaliar o VO2pico em adolescentes é necessário levar-se em conta, não só o tipo de treinamento utilizado (volume e intensidade), mas também o seu tamanho corporal.

Palavras-chave: Futebol, Aptidão aeróbia, Adolescentes, Alometria.

Comparison of relative and allometric peak VO2 in adolescents under different training conditions in soccer

Abstract: Maximum oxygen consumption (VO2peak) is used in studies with adolescents to relate physical fitness to health status, and in the area of sports training to prescribe and evaluate training programs. The objective of the present study was to verify the VO2peak in adolescent soccer players, observing the type of training and body size. The sample consisted of 116 male adolescents, aged between 12 and 15 years old, divided into three groups, the Control Group (CG; n=45), the Educational Sports Group (ESG; n=45) and the Soccer Athletes Group ( SAG; n=26). Height and body mass were assessed. The Yo-Yo Intermittent Endurance Test was used to assess VO2peak. ANOVA (one way) was used to determine intergroup differences. VO2peak was allometrically adjusted by the exponent of -0.67. Initially, a better aerobic performance was observed in the ESG group compared to the GED. After allometric adjustment, the results pointed to a better performance of the SAG in relation to the GED and the ESG. We conclude that in order to evaluate VO2peak in adolescents it is necessary to take into account not only the type of training used (volume and intensity), but also their body size.

Keywords: Soccer, Aerobic fitness, Adolescents, Allometry.

Comparación del VO2 de pico relativo y alométrico en adolescentes bajo diferentes condiciones de entrenamiento de fútbol de campo

Resumen: El consumo máximo de oxígeno (VO2pico) se utiliza en estudios con adolescentes para relacionar la aptitud física al estado de salud, y en el ámbito del entrenamiento deportivo, se utiliza para prescribir y evaluar programas de entrenamiento. El objetivo del presente estudio fue verificar el VO2pico en adolescentes practicantes de fútbol de campo, observando el tipo de entrenamiento y el tamaño corporal. La muestra se compuso por 116 adolescentes masculinos, de edades entre 12 y 15 años, divididos en tres grupos, el Grupo Control (GC; n=45), el Grupo de Deporte Educacional (GEE; n=45) y el Grupo de Atletas de Fútbol (GAF; n=26). Se evaluaron la estatura y la masa corporal. El Yo-Yo Intermittent Endurance Test se empleó para evaluar el VO2pico. Se utilizó la ANOVA (one way), para determinar las diferencias entre los grupos. El VO2pico se ajustó alométricamente por el exponente de -0,67. Inicialmente, se observó un mejor desempeño aeróbico del grupo GEE en relación con el GED. Luego del ajuste alométrico, los resultados apuntaron para un mejor desempeño del GAF en relación con el GED y GEE. Se concluyó que para evaluar el VO2pico en adolescentes es necesario tener en cuenta no solo el tipo de entrenamiento empleado (volumen e intensidad), sino también su tamaño corporal.

Palabras clave: Fútbol, Aptitud aeróbica, Adolescentes, Alometría.

1. Introdução

A aptidão cardiorrespiratória pode ser definida fisiologicamente como consumo máximo de oxigênio (VO2máximo, i. e. a mais alta taxa de utilização do oxigênio pelas células musculares para fornecimento de energia), e, em crianças e adolescentes, é mais indicado o uso do termo VO2pico (Rowland, 2008). Essa capacidade tem sido utilizada na área da saúde com o objetivo de relacionar a aptidão física ao desenvolvimento de riscos cardiovasculares, por outro lado, na área do treinamento esportivo, o VO2pico é uma medida norteadora para a prescrição do exercício e avaliação de programas de treinamento (Rowland, 2008), sendo, portanto, o VO2pico um importante marcador de saúde em crianças e adolescentes (Cadenas-Sanchez, Lamoneda y Huertas-Delgado, 2021).

Nesse sentido, Oliveira e Guedes (Oliveira y Guedes, 2016), realizaram uma revisão sistemática e observaram uma associação significativa entre baixos níveis de atividade física e comportamento sedentário (maior que 2 horas de tempo de tela/semana) com o desenvolvimento de síndrome metabólica na adolescência. O que demostra uma importante relação entre nível de atividade física/comportamento sedentário/saúde.

Para tanto, a Organização Mundial da Saúde recomenda a prática de 300 minutos/semana de atividade física de moderada a alta para crianças e adolescentes (World Health Organization, 2010). No Brasil, o futebol é a principal modalidade praticada entre os meninos na adolescência, haja vista o número de escolinhas de futebol que surgiram nos últimos anos no cenário nacional como opção de formação de futuros desportistas e como políticas públicas para o desenvolvimento do esporte e, que foram se adaptando no decorrer do tempo (Oliveira, Elson Aparecido, Grunennvaldt, 2015).

Sabe-se que o futebol é dependente de uma boa composição corporal, VO2pico, velocidade, força e potência muscular, neste sentido Rebelo et al. (2013) observaram valores especificamente melhores dessas variáveis de acordo com o nível de competição (i. e. praticantes recreacionais, nível amador e de elite). Portanto, é possível inferir que a prática do futebol de campo pode desenvolver a aptidão física em crianças e adolescentes, tanto para o desempenho, quanto para a saúde, dependendo do nível em que é praticado com influência positiva na melhora do VO2pico.

Porém, ao avaliar o VO2pico nessa população, deve-se observar que, no período da infância e adolescência ocorre um aumento progressivo dos componentes determinantes dessa capacidade, portanto, a capacidade aeróbia mensurada por meio do VO2pico depende dos componentes cardiovasculares, respiratórios e musculares (Rowland, 2008). Na puberdade, o aumento do VO2pico nos meninos, decorre do anabolismo da testosterona, como consequência, os valores absolutos aumentam conforme o crescimento (Rodriguez et al. 2006) e, portanto, requer análises que possam observar as mudanças que ocorrem durante o crescimento nas variáveis de composição corporal e sistema cardiovascular influenciadas pela maturação (Armstrong y Welsman, 2020).

O VO2pico pode ser expresso em valores absolutos (litros/minuto) ou em valores relativos a massa corporal (mililitros/quilogramas/minuto), sendo este último, o mais utilizado comparações entre sujeitos com diferenças de massa corporal, massa corporal magra, estatura e percentual de gordura (Rowland, 2008).

Dessa forma, a análise da composição corporal deve ser considerada ao mensurarmos o VO2 pico em crianças e adolescentes, pois, parte das respostas biológicas observadas no esforço físico, está associada às dimensões corporais, assim, uma das maneiras de ajustar a proporção corporal para analisar essa capacidade, é a utilização da escala alométrica (Chamari et al., 2005), que é representada por uma equação que indica o comportamento de uma variável fisiológica Y em relação à variável massa , onde . é o coeficiente alométrico (constante) e b é o expoente alométrico ou escalonável (Tartaruga et al., 2010).

Assim, entender como o futebol pode alterar as respostas cardiorrespiratórias de adolescentes em diferentes níveis de prática pode auxiliar na compreensão de seu desempenho aeróbio, tanto para a competição quanto para a saúde. Além disso, a literatura demostra que ajustes realizados como a divisão pelo peso (e.g. ml. min-1. kg-1), apresenta uma vantagem aritmética para os indivíduos menores em relação aos maiores, sem apresentar diferenças na variável fisiológica (VO2pico) (Welsman et al., 1996). Dessa forma, a hipótese do presente estudo é que o aumento do nível de exigência física de treinamento do futebol de campo pode promover aumentos significativos no VO2pico em adolescentes praticantes.

Portanto, o objetivo do presente estudo foi verificar o VO2pico entre os adolescentes praticantes de futebol de campo de dois níveis (esporte educacional e categorias de formação de base) e não praticantes antes e após o ajuste pelo tamanho corporal.

2. Metodología

2.1 Casuística

A amostra foi composta por 116 adolescentes do gênero masculino, com faixa etária entre 12 e 15 anos, dividido em três grupos; a) o Grupo de Educação Física Escolar Regular [(GED; n= 45), i. e. adolescentes que frequentam as aulas de Educação Física regular do ensino fundamental da rede municipal de Campinas-SP], com frequência de duas aulas semanais (150 minutos por semana); b) o Grupo de Treinamento de Futebol no Esporte Educacional [(GEE; n=45), i. e. com o treinamento de futebol duas vezes na semana (150 minutos) mais as duas sessões de educação física regular (total = 300 minutos) e; c) o Grupo de Categorias de Formação de Atletas de Futebol [(GAF; n=26), i. e. integrantes da base de formação um clube de futebol que disputa o Campeonato Paulista, além de duas sessões de educação física (>900 minutos por semana)].

Os critérios de inclusão foram: a) não apresentar deficiências físicas; b) não ter algum tipo de lesão; c) para o grupo 1 e 3, não realizar outra atividade física; d) para o grupo 2 ter pelo menos seis meses de participação nos treinamentos, e; e) para o GAF ter pelo menos um ano de treinamento.

Todos os participantes foram devidamente informados dos procedimentos experimentais e desconfortos possíveis associados com o estudo. Os adolecentes participantes assinaram o termo de assentimento e os responsáveis assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido para autorização. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual da Unicamp (CEP 045/2011).

2.2 Antropometria e composição corporal

A estatura foi medida por meio de um estandiômetro (Personal Caprice Sanny® ES2060) graduado em milímetros com precisão de 0,1 cm e a massa corporal foi avaliada numa balança da marca Acqua® (SIM 09190), com carga máxima de 180 kg e divisões em 100 g. Para as medidas de espessura das dobras cutâneas do tríceps (TR), e subescapular (SE), foi utilizado um compasso de dobras da marca Lange (Cambridge Scientific Instruments, Maryland, USA) com precisão de 1 mm. Todas as medidas seguiram técnica padronizada (Lohman, Roche y Martorell, 1988). Foi utilizada a equação:

Onde, ∑=Somatória das dobras (triciptal + subescapular); C = constante por gênero e idade, proposta por Lohman et al. (1992) para calcular o percentual de massa gorda (%MG). Com base nesses dados, a massa de gordura (MG) foi calculada por . A massa livre de gordura (MLG) foi calculada subtraindo a massa de gordura da massa corporal. Todas as medidas antropométricas foram realizadas pelo mesmo avaliador (RC).

2.3 Aptidão Cardiorrespiratória

A capacidade de resistência aeróbia foi avaliada por meio do protocolo Yo-yo intermitente recovery test nível 1 (YYIRTI) proposto por Bangsbo, Iaia e Krostrup (2008) calculando o VO2pico estimado pela equação. Antes do Teste de VO2pico foi realizado um período de aquecimento de 10 minutos em uma intensidade moderada e individualizada. O teste incremental exaustivo consistiu no percurso de corrida vai-e-vem em 20 metros com um recuo de cinco metros para descanso de cinco segundos. O teste iniciou-se após um sinal sonoro através de um aparelho de som com velocidade determinada. O teste foi encerrado quando o atleta entrasse em exaustão voluntária ou realizasse duas falhas não conseguindo percorrer os 20 metros na velocidade determinada pelo estágio. Embora a determinação do VO2pico de forma indireta seja subestimada quando comparada com avaliações diretas, o estudo de Lizana et al. (2014) apontam uma correlação significativa entre os valores de VO2pico obtidos de forma direta e indireta. As avaliações foram realizadas em campo gramado nos respectivos locais de educação física e treinamento.

2.4 Análise estatística

O tratamento estatístico das informações foi realizado mediante o pacote computadorizado SPSS 17 (Statistical Package for the Social Sciences) utilizando-se dos procedimentos da estatística descritiva média, mediana, mínimo, máximo e desvio padrão. Para verificar a distribuição dos dados, foi utilizado o teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnovª. Para análise inferencial, foram utilizados a ANOVA (one way) e o teste de Kruskall-Wallis. O teste Levene foi empregado para verificar a homogeneidade das variâncias e, para determinar as diferenças intergrupos utilizou-se o teste Post Hoc de Bonferroni. Para o ajuste do VO2pico pela massa corporal foi utilizada a escala alométrica com expoente de 0,67 (Chamari et al., 2005), utilizou-se da equação: ; onde a é constante, b é a o expoente, e x é a massa corporal, transformada em uma função linear usando-se a transformação logarítmica:. O nível de significância adotado foi de p<0,05

3. Resultados

A Tabela 1 apresenta os resultados descritivos de média, desvio padrão, mínimo e máximo das variáveis estudadas divididas por grupo.

Tabela 1
Valores descritivos de idade, tempo de treino, antropometria e composição corporal divididos por grupo
Valores descritivos de idade, tempo de treino, antropometria e composição corporal divididos por grupo
Fuente: Elaboração própria %MG: percentual de massa gorda; MG: massa de gordura; MLG: Massa Livre de Gordura; * diferença significativa em relação ao GC [ANOVA (Bonferroni); p<0,001]; # diferença significativa em relação ao GEE [ANOVA (Bonferroni); p<0,001].

A Tabela 1 apresenta as diferenças entre as médias e IC 95% entre os grupos para as variáveis idade e de composição corporal. O GAF apresentou idade significativamente superior [F (2, 113) = 52.44; p<0,0001] em relação ao GED (p<0,0001) e GEE (p<0,0001). Como esperado, o GAF apresentou valores significativamente superiores ao demais grupos nas variáveis relacionadas ao desempenho como a estatura [F (2, 113) = 27.77; p<0,0001] em relação ao GED (p<0,0001) e ao GEE (p<0,0001), para a massa corporal [F (2, 113) = 27.770; p<0,0001] sobre o GED (p<0,0006) e o GEE (p<0,0001) e do GED sobre o GEE (p<0,0002) e da MIG [F (2, 113) = 46.17; p<0,0001)] sobre o GED (p< 0,0001) e o GEE (p<0,0001). Já, com relação as variáveis associadas ao componente de gordura, observou-se o oposto, com valores superiores do %MG [F (2, 113) = 24.660; p<0,0001] do GED sobre o GEE (p<0,0001) e o GAF (p<0,0001) e da MG [F (2, 113) = 9.087; p<0,0002] apenas em relação ao GEE (p<0,0001).

Estes resultados, confirmam a necessidade de, ao se avaliar o VO2pico, levar em consideração as diferenças relativas ao tamanho corporal. Assim, optou-se por ajustar o VO2pico alometricamente, os resultados são apresentados na Tabela 2.

Tabela 2
Valores descritivos do VO2pico relativo (ml.min.kg-1) e alométrico (ml.min.kg-0,67) divididos por grupo.
Valores descritivos do VO2pico relativo (ml.min.kg-1) e alométrico (ml.min.kg-0,67) divididos por grupo.
Fuente: Elaboração própria VO2pico = Pico de consumo máximo de oxigênio; * diferença significativa em relação ao GC [ANOVA (Bonferroni); p<0,001]; # diferença significativa em relação ao GEE [ANOVA (Bonferroni); p<0,001].

Com relação ao VO2pico relativo, o GEE apresentou valores significativamente superior [F (2, 113) = 26.58; p<0,0001] ao GED (p<0,0001) e ao GAF (p<0,0001). Após o ajuste alométrico o GAF apresentou valores superiores [F (2, 113) = 27.79; p<0,0001] ao GEE (p<0,0001) e GED (p<0,0002), e o GED obteve valor significativamente maior ao Grupo GEE (p<0,0006).

4. Discussão

O objetivo do presente estudo foi verificar o VO2pico entre os adolescentes praticantes de futebol de dois níveis (esporte educacional e categorias de formação de base) e não praticantes antes e após o ajuste pelo tamanho corporal.

Os resultados mostraram que, a prática do futebol pode promover alterações positivas na composição corporal dos adolescentes, como observado nos resultados superiores de estatura (176,25±6,71; p<0,05), massa corporal (61,62±8,27; p<0,05) e MLG (54,98±5,92; p<0,05) do GAF e relação ao GED e GEE, o que pode ser caracterizado pela própria seleção de talentos e pelas diferentes rotinas de treinamentos realizadas entre os grupos. Em adição, com relação aos resultados do VO2pico foi possível observar que o tamanho corporal tem influência na análise desse parâmetro cardiorrespiratório, pois, quando avaliado o VO2pico relativo, o grupo que apresentou melhore resultado foi GEE com diferenças significativas somente para o GED (44,83±3,45 e 39,44±3,58; p<0,0001, respectivamente). Entretanto, após o ajuste alométrico, os resultados foram diferentes, com VO2pico significativamente superior do GAF (175,13±25,22) para o GED (143,89±36,58; p<0,0001) e do GAF e GED sobre o GEE (119,26±26,44; p<0,0001).

Quando utilizamos ajustes matemáticos lineares mais simples a fim de normalizar os dados para permitir a comparação entre indivíduos e grupos, como por exemplo, a divisão do VO2pico (ml.min.-1) pela massa corporal (ml.kg.min.-1), este não leva em consideração as alterações nas dimensões corporais que ocorrem ao longo do tempo, que podem ser tanto estrutural quanto funcional, e, portanto, pode-se inferir que a utilização do VO2pico (ml.kg.min.-1) pode não refletir com precisão a aptidão cardiorrespiratória (Loftin et al., 2016) e superestimar essa capacidade em sujeitos menores (Welsman et al., 1996), como visto no presente estudo com melhores resultados do VO2pico (ml.kg.min.-1) para o GEE.

Os resultados apontam melhor desempenho dos grupos com frequência de treinamento igual ou superior a 4 sessões semanais (GEE e GAF). A literatura científica tem demonstrado que ganhos de picos da capacidade aeróbia são conseguidos, através de sessões de treinamento com alta intensidade e uma duração variando entre 35 e 45 minutos com frequência de no mínimo quatro sessões semanais (Sharkey, 1998; Ito, 2019). De fato, alguns estudos anteriores demonstraram que, durante as sessões de treinamento, intervalos repetidos de exercícios de alta intensidade e curta duração (treinamento intervalado) são uma alternativa eficaz para melhorar o VO2pico entre os atletas (Kim et al., 2011; Cocks et al., 2012). Além disso, estes resultados encontrados neste estudo devem ser interpretados com cautela, já que estudos futuros devem desenvolver programas de intervenção, nos quais tanto a carga interna quanto externa das sessões de treinamento dos jovens jogadores de futebol possa ser controlada.

Por outro lado, Nes et al. (2013) examinaram o VO2pico alométrico ajustado pelo expoente -0,67 (ml. min.-1. kg-0,67), com o nível de atividade física em adolescentes de 13 a 18 anos e observaram uma associação positiva entre a atividade física e o VO2pico escalonado alometricamente, ou seja, conforme houve aumento do nível de atividade física, principalmente de moderada a vigorosa o VO2pico também aumentou.

O futebol de campo é uma modalidade esportiva com ações intermitentes, caracterizada por sprints de curta duração, intercalados com períodos de recuperação suficientes para permitir a recuperação completa do desempenho. A maior parte do jogo é realizada em intensidade baixa a moderada, com predomínio do metabolismo aeróbio. Além disso, devido à recuperação entre os períodos de alta intensidade este metabolismo torna-se primordial para a modalidade. (Stolen et al., 2005; Abderrahman et al., 2018).

Essas características do futebol têm influência na composição corporal e no VO2pico dos praticantes e, portanto, nos resultados do presente estudo, pois, os grupos possuem características diferentes em relação ao treinamento, no GED, o objetivo é a preparação para a competição, ou seja, desenvolver as capacidades determinantes e condicionantes do futebol, ou seja, sessões com características mais específicas do futebol como força, velocidade, resistência anaeróbia e aeróbia além da composição corporal (Slimani y Nikoladis, 2018).

Com relação ao GEE, observa-se que a proposta do desenvolvimento dentro das escolinhas de esporte, no caso do futebol, tende a orientar de atividades de formação e preparação dos jovens praticantes com o foco de desenvolver os aspectos pedagógicos, com o propósito de aumentar o conhecimento e o nível de desempenho técnico e tático (Costa, Garganta, Greco y Costa, 2010).

Com relação aos resultados de VO2pico do GED, a literatura sugere que indivíduos com maior massa gorda em relação a estatura também apresentam maior massa corporal magra para estatura (Chinali et al., 2006). Assim, o GED também apresentou alteração do VO2pico quando ajustado alometricamente, assim, a normalização dos dados usando a escala alométrica é um método eficiente para corrigir essa variável em amostras com grandes diferenças de massa corporal produzindo um valor de VO2pico mais realista (Milano et al., 2009).

Portanto, após a utilização do ajuste proporcionado pela alometria os resultados apontaram para um melhor desempenho do GAF em relação ao GEE e GED o que pode ser explicado pelo maior tamanho do tecido corporal obtido neste grupo, ou seja, pelo fato do tecido que é o maior consumidor de energia (i. e. musculo esquelético que compõe a massa livre de gordura) durante o exercício relativo à massa corporal (Rowland, 2008) ser um dos componentes que influenciam na determinação do expoente alométrico.

Algumas limitações devem ser reconhecidas neste estudo, por exemplo, não foi possível controlar o estado de maturação da amostra estudada, além disso, o estudo transversal realizado não permite inferir relações de causa e efeito, portanto, é necessário que estudos futuros desenvolvam estudos longitudinais e/ou experimentais. Apesar do acima exposto, ao menos este estudo fornece informações elementares para treinadores e pesquisadores, destacando o controle alométrico entre adolescentes.

5. Conclusão

Conclui-se que para se avaliar o VO2pico em adolescentes é necessário levar-se em conta, não só o tipo de treinamento utilizado (volume e intensidade), mas também o tamanho corporal, principalmente nas fases de crescimento, onde rápidas alterações ocorrem no tamanho (e. g. estatura e peso) e a escala alométrica é uma ferramenta de fácil utilização para amenizar as interferências de outros procedimentos matemáticos comumente adotados.

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Recepción: 20 Julio 2021

Aprobación: 20 Abril 2022

Publicación: 01 Agosto 2022

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