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A produção científica acerca do livro Metodologia do Ensino de Educação Física no ano de seu trigésimo aniversário
Resumo: Uma das mais notórias reflexões e abordagens para se pensar a Educação Física no Brasil se dá a partir do livro Metodologia do Ensino de Educação Física, de 1992. Como objetivo, buscamos analisar a produção científica acerca da obra após 30 anos de sua publicação. Com este fim, foram analisadas publicações de 4 dentre as principais revistas científicas do campo sociocultural da Educação Física em 2022, são elas: a Revista Brasileira de Ciências do Esporte; Movimento; Pensar a Prática; e Motrivivência. Foi encontrado um total de 27 artigos com referências a obra. Nestes artigos, as menções ocorreram de diferentes formas, seja aprofundando nos objetos de estudo inerentes a obra, seja como referência base para compreender desdobramentos históricos e/ou políticos que envolvem a Educação Física, dentre outras.
Palavras-chave: Coletivo de Autores, Educação Física, Periódicos.
Scientific production on the book Metodologia do Ensino de Educação Física on its thirtieth anniversary
Abstract: One of the most notable reflections and approaches for rethinking Physical Education in Brazil comes from the book Metodologia do Ensino de Educação Física published in 1992. The objective of this paper is to analyze the scientific production on this work thirty years after its publication. For this purpose, the publications of four of the leading scientific journals in the sociocultural field of Physical Education in 2022 were analyzed, namely: Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Movimento, Pensar a Prática, and Motrivivência. A total of 27 articles that referenced the book were identified. In these articles, the mentions occurred in various ways, either delving into the objects of study inherent to the book, or as a foundational reference to understand historical and/or political developments involving Physical Education, among others.
Keywords: Author Collective, Physical Education, Journals.
La producción científica acerca del libro “Metodologia do Ensino de Educação Física” en el año de su trigésimo aniversario
Resumen: Una de las reflexiones y enfoques para pensar la Educación Física en Brasil más notables proviene del libro Metodologia do Ensino da Educação Física de 1992. Como objetivo buscamos analizar la producción científica sobre el trabajo a 30 años de su publicación. Para ello, se analizaron las publicaciones de 4 de las principales revistas científicas del ámbito sociocultural de la Educación Física en 2022, a saber: la Revista Brasileira de Ciências do Esporte; Movimento; Pensar a práctica; y Motrivivência. Se encontraron un total de 27 artículos con referencias a la obra. En estos artículos las menciones se dieron de diferentes maneras, ya sea ahondando en los objetos de estudio inherentes a la obra, o como referencia base para comprender desarrollos históricos y/o políticos que involucran a la Educación Física, entre otros.
Palabras clave: Colectivo de Autores, Educación Física, Publicaciones Periódicas.
1. Introdução
Os anos seguintes à redemocratização no Brasil, em 1985, contaram com diversos avanços do campo progressista em diversos setores político-partidários, de movimentos sociais e científicos, fruto da organização política da classe trabalhadora (Coutinho, 2000; Fontes, 2010).
No campo da Educação Física não foi diferente. Este processo é evidenciado a partir de questionamentos acerca do papel político do campo no modelo de sociedade capitalista, ainda que com grande influência do campo da Educação e das ciências humanas em geral, refletindo inicialmente em debates sobre a profissão, a inserção enquanto campo acadêmico e a estruturação de uma entidade científica representativa da área (o Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte – CBCE), entre outras questões pontuais.
Deste modo, há o surgimento de um movimento tido como renovadorna Educação Física, que busca superar algumas concepções de cunho conservador, que se evidenciam pela presença de instituições médico-higienistas e militaristas, seguindo – de forma cronológica – de uma concepção pautada na ginástica e, posteriormente, nos esportes (Bracht, 1997; Coletivo de Autores, 2012; Soares, 2012). É neste sentido que diversos autores passam a refletir sobre novas abordagens para se pensar a Educação Física nas escolas, na saúde pública e no lazer.
Uma das mais notórias reflexões e abordagens se dá a partir do livro Metodologia do Ensino da Educação Física, de 1992, composto por um Coletivo de Autores – tendo a obra se tornado também conhecida por este nome – formado por Carmen Lúcia Soares, Celi Nelza Zülke Taffarel, Maria Elizabeth Medicis Pinto Varjal, Lino Castellani Filho, Micheli Ortega Escobar e Valter Bracht. Neste momento, contudo, apenas o último já havia concluído seu doutorado, levando-nos a perceber uma ainda breve maturidade do campo e de seus autores.
Neste contexto, os referidos autores, são protagonistas do movimento renovador da educação física brasileira e, além de questionarem o antigo paradigma, constroem e propõem o paradigma da cultura corporal e, como indicado no livro, pretendem,
Na perspectiva da reflexão sobre a cultura corporal [...] busca desenvolver uma reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de representação do mundo que o homem tem produzido no decorrer da história, exteriorizadas pela expressão corporal: jogos, danças, lutas, exercícios ginásticos, esporte, malabarismo, contorcionismo, mímica e outros, que podem ser identificados como formas de representação simbólica de realidades vividas pelo homem, historicamente criadas e culturalmente desenvolvidas (Coletivo de Autores, 2012, p. 39).
Para tanto, os autores sugerem ainda que seria possível, a partir do livro em questão, encontrar elementos básicos para a elaboração de uma teoria pedagógica e de um programa específico para cada um dos graus de ensino (Coletivo de Autores, 2012).
O presente estudo, ao analisar a produção teórica no ano do trigésimo aniversário da obra, também tem como pretensão refletir sobre sua relevância e pertinência nos dias atuais. Neste sentido, nos baseamos na reflexão de Saviani (1991), citada pelo próprio Coletivo de Autores (2012):
Como adverte Saviani (1991, p. 21), “... o clássico não se confunde com o tradicional e não se opõe, necessariamente, ao moderno e muito menos ao atual, é aquilo que se firmou como fundamental, como essencial”. Conclui-se que os conteúdos clássicos jamais perdem a sua contemporaneidade (Coletivo de Autores, 2012, pp. 32-33).
A atualidade da obra, portanto, é evidenciada por sua capacidade de dialogar com as demandas contemporâneas da educação e de forma mais restrita da educação física e por sua referência constante em debates acadêmicos e práticas pedagógica, além de marcar presença em concursos públicos, em ementas de diversos cursos superiores no nosso país e em projetos pedagógicos municipais e estaduais (Coletivo de Autores, 2012).
Dito isto, para cumprirmos com o objetivo de analisar a produção científica acerca da obra após 30 anos de sua publicação, serão analisadas as publicações de quatro dentre as principais revistas científicas voltadas ao campo sociocultural da Educação Física no ano de 2022. As revistas foram determinadas pelo julgamento da relevância para este campo da EF em conjunto às suas classificações no programa de qualificação nacional dos periódicos do quadriênio 2017-2020, através do WebQualis, de forma a estarem todas entre as classificações B1 e B2. São elas: a Revista Brasileira de Ciências do Esporte (B1); Movimento (B1); Pensar a Prática (B2); e Motrivivência (B2).
A análise será feita a partir de todas as publicações do ano de 2022 das revistas, procurando aquelas que tenham feito referência ao livro Metodologia do Ensino da Educação Física em quaisquer de suas edições, e organizando-as a partir da quantidade de trabalhos com tais menções.
Depois de organizadas as publicações, buscaremos compreender o perfil de cada uma delas, visando refletir sobre o motivo de aparição do livro em questão, podendo ser pautado pela busca de referenciais teóricos para diferentes práticas pedagógicas ou até mesmo em alusão ao seu trigésimo aniversário.
Nominalmente intentamos descobrir:
O livro Metodologia do Ensino da Educação Física (1992), trinta anos depois de sua publicação, continua aparecendo como referência nos estudos de Educação Física?
Quais foram os contextos e em que cenários as ideias trazidas na obra do Coletivo de Autores aparecem nos textos citados em 2022?
Como isso reflete aspectos acerca da relevância e atualidade do texto do Coletivo de Autores para a Educação Física?
2. Sobre o livro Metodologia do Ensino da Educação Física
O livro Metodologia do Ensino de Educação Física, publicado pela primeira vez em 1992, é uma obra constituída de quatro capítulos, que abordam temas inerentes ao ensino da educação física, como o projeto político-pedagógico, currículo, o conceito de Educação Física e sua história, metodologia, avaliação, entre outros. Além de fazer clara oposição ao paradigma da aptidão física – hegemônico à época – e propor um novo paradigma, o da cultura corporal, trabalhado por meio da abordagem crítico-superadora.
A concepção crítico-superadora surge a partir da necessidade pedagógica de se responder aos interesses da classe trabalhadora, de forma que para os autores tenha se tratado de “uma pedagogia emergente” (Coletivo de Autores, 2012, p. 27).
Sobre seu projeto político-pedagógico, apontam: “é político porque expressa uma intervenção em determinada direção e é pedagógico porque realiza uma reflexão sobre a ação dos homens na realidade explicando suas determinações.” (p. 27). Desta forma, sua reflexão pedagógica tem as seguintes características: diagnóstica, judicativa e teleológica:
Diagnóstica, porque remete à constatação e leitura dos dados da realidade. Esses dados carecem de interpretação, ou seja, de um julgamento sobre eles. Para interpretá-los, o sujeito pensante emite um juízo de valor que depende da perspectiva de classe de quem julga, porque os valores, nos contornos de uma sociedade capitalista, são de classe. Dessas considerações resulta que a reflexão pedagógica é judicativa, porque julga a partir de uma ética que representa os interesses de determinada classe social. É também teleológica, porque determina um alvo onde se quer chegar, busca uma direção. Essa direção, dependendo da perspectiva de classe de quem reflete, poderá ser conservadora ou transformadora dos dados da realidade diagnosticados e julgados (Coletivo de Autores, 2012, p. 27, grifos nossos).
Assim, se consolida uma metodologia do ensino pautada nos interesses – e necessidades – da classe trabalhadora, como refletem os autores:
Todo educador deve ter definido o seu projeto político-pedagógico. Essa definição orienta a sua prática no nível da sala de aula: a relação que estabelece com os seus alunos, o conteúdo que seleciona para ensinar e como o trata científica e metodologicamente, bem como os valores e a lógica que desenvolve nos alunos.
É preciso que cada educador tenha bem claro: qual o projeto de sociedade e de homem que persegue? Quais os interesses de classe que defende? Quais os valores, a ética e a moral que elege para consolidar através de sua prática? Como articula suas aulas com este projeto maior de homem e de sociedade? (Coletivo de Autores, 2012, pp. 27-28).
Desta forma, fica claro que os autores reconhecem o papel fundamental da educação escolar para a classe, no entanto não perdem de vista as contradições que marcam o modo de produção capitalista, neste sentido é importante destacar que a educação formal mesmo que condicionada, se relaciona dialeticamente com a sociedade, sendo elemento determinado que influencia o elemento determinante (Saviani, 2008).
Estes são os pressupostos que orientam a construção da abordagem crítico-superadora, a partir deles que se pode formular os princípios da abordagem, como exemplo, o desenvolvimento da noção de historicidade:
É fundamental para essa perspectiva da prática pedagógica da Educação Física o desenvolvimento da noção de historicidade da cultura corporal. É preciso que o aluno entenda que o homem não nasceu pulando, saltando, arremessando, balançando, jogando etc. Todas essas atividades corporais foram construídas em determinadas épocas históricas, como respostas a determinados estímulos, desafios ou necessidades humanas (Coletivo de Autores, 2012, p. 40).
O desenvolvimento desta noção permite que o aluno compreenda que a produção humana é histórica, inesgotável e provisória. Neste novo paradigma o aluno não é mero reprodutor e a finalidade da educação física não está mais alinhada aos interesses da classe dominante. Para o Coletivo de Autores (2012), o aluno deve se reconhecer enquanto sujeito histórico e a educação física deve contribuir para a afirmação dos interesses concretos da classe trabalhadora.
Neste viés, para estabelecer o primeiro diálogo sobre este novo paradigma e promover subsídios para colocar em prática uma educação física compromissada com a reflexão sobre a cultura corporal, a obra teve como pretensão “auxiliar o professor no aprofundamento dos conhecimentos de educação física como área de estudo e campo de trabalho” (Coletivo de Autores, 2012, p. 10).
À época, poucas produções possuíam um caráter propositivo. Este era o desafio que o Coletivo de Autores se propôs: criar um trabalho que contribuísse para o avanço do enfrentamento ao que estava colocado, não apenas no campo da denúncia, mas que também pudesse ser uma ferramenta de instrumentalização para os professores.
Esta pretensão está registrada também na introdução do livro:
Nesse sentido, um livro de Metodologia da Educação Física não pode ser um mero receituário de atividades, uma lista de novos exercícios e de novos jogos. Mais Do que isso, deve fornecer elementos teóricos para a assimilação consciente do conhecimento, de modo que possa auxiliar o professor a penar autonomamente. Apropriação ativa e consciente é uma das formas de emancipação humana (Coletivo de Autores, 2012, p. 19).
Desta forma, a obra:
[…] expõe e discute questões teórico-metodológicas da Educação Física, tomando-a como matéria escolar que trata, pedagogicamente, temas da cultura corporal, ou seja, os jogos, a ginástica, as lutas, as acrobacias, a mímica, o esporte e outros. Este é o conhecimento que constitui o conteúdo da Educação Física (Coletivo de Autores, 2012, p. 19).
3. Análise e levantamento das menções ao Coletivo de Autores em seus 30 anos
Como citado anteriormente, e de acordo com os critérios adotados, foram definidos quatro periódicos do campo sociocultural da Educação Física para que fosse feita a análise. São elas: a Revista Brasileira de Ciências do Esporte (RBCE), a Revista Movimento, a Revista Pensar a Prática e, por último, a Revista Motrivivência.
Na Revista Brasileira de Ciências do Esporte, foi encontrado no ano de 2022 o volume 44, contando ao todo com 49 artigos publicados, sendo um deles o editorial, 45 artigos originais, 2 artigos de revisão e 1 errata.
A Revista Movimento, em seu volume 28, contou com 80 artigos publicados, divididos em: 15 definidos como Em foco, 50 artigos originais e 15 ensaios.
A Revista Pensar a Prática, no volume 25, contou com 60 artigos, sendo o editorial, além de 14 destinadas à seção temática Covid 19 e os desafios para a Educação Física, 24 artigos originais, 9 artigos de revisão, 10 ensaios e 2 resenhas.
Por fim, a Revista Motrivivência, contou com seu número 34 no ano de 2022, com 86 publicações, sendo uma destinada ao Editorial e uma ao Expediente, restando 35 artigos originais, 33 na seção Porta Aberta, 1 na seção Imagens e Homenagem e 15 na Seção Temática.
Deste modo, por entender a especificidade de algumas das publicações, pretendemos nos ater apenas às publicações voltadas às seções temáticas, artigos originais, artigos de revisão e ensaios, excluindo assim as destinadas à capa, os editoriais, expedientes, resenhas, homenagens e errata,
Assim, nos resta 47 publicações na primeira revista, 80 na segunda, 57 na terceira e 83 na última.
Portanto, seguiremos o mapeamento através da busca por citações e referências ao livro em questão – além de uma leitura minuciosa destas – através das palavras-chave metodologia e coletivo. Assim, buscaremos separar os artigos em que sejam encontradas as referências, de forma que seja possível fazer a análise de tais citações posteriormente.
A primeira revista – a Revista Brasileira de Ciências do Esporte (RBCE) – contou com 9 artigos que mencionavam o Coletivo de Autores, sendo todos estes artigos originais. A Revista Movimento contou com 4 menções, sendo uma na seção Em Foco, uma dentre os artigos originais e dois ensaios. Já na Revista Pensar em Prática, foi possível encontrar menções à obra em um artigo da seção temática Covid 19 e os desafios para a Educação Física, além de um artigo original, um artigo de revisão e dois ensaios. Por fim, a Revista Motrivivência também contou com 9 artigos, sendo 3 artigos originais, 5 na seção Porta Aberta e um na seção temática.
Portanto, foram encontrados nessas revistas 267 artigos válidos para a pesquisa, com o total de 27 artigos que mencionavam o Coletivo de Autores (10,11% de todos os artigos). Assim, resultou-se na seguinte ordem de classificação da Revistas a partir do percentual de artigos com menções por artigos válidos: em primeiro, a Revista Brasileira de Ciências do Esporte, com 19,14%, seguida da Motrivivência, com 10,84%, Pensar a Prática, com 8,77% e, por último, a Movimento, com 5%.
Evidentemente, seria necessária uma pesquisa mais aprofundada que buscasse entender tais menções em outros cenários, como nos primeiros anos após publicação do livro, ou nos aniversários de 10 e 20 anos, por exemplo, além da utilização do livro enquanto bibliografia para concursos, etc. Ainda assim, é inquestionável que, a partir do número de menções 30 anos após sua primeira edição, estejamos tratando de um clássico que, consequentemente, careça de uma análise mais completa de toda a sua repercussão e relevância para o campo da Educação Física brasileira.
Como apresentado nos quadros abaixo (Quadro 1 e Quadro 2), há títulos que já mostram alguma referência aos temas da cultura corporal ou da própria abordagem crítico-superadora, enquanto outras não trazem indícios da referência em questão em seus títulos. Por este motivo, será necessária ainda uma análise mais aprofundada nos textos.
Revista | Autoria | Título |
Revista Brasileira de Ciências do Esporte (RBCE) | Lorenzini, A. R., Melo, M. S. T. D. & Souza, M. | A aula crítico-superadora na Educação Física: fundamentos e princípios da lógica dialética |
Mendes, D. S. & Barbosa, L. G. | Repensando o social na Educação Física a partir das contribuições da Teoria Ator-Rede e de Bruno Latour | |
Boscatto, J. D. & Bagnara, I. C. | Educação Física no Ensino Médio Integrado: conhecimento e especificidade | |
Silva, A. O. F. D., Madela, A. & Wittizorecki, E. S. | As agendas do Global Education Reform Movement (GERM) e as suas relações com a Educação Física | |
Silva, C. R. | Trabalho jornalístico: uma experiência com a produção de revista digital | |
Malacarne, J. A. D., Carvalho, P. H. M. D., Araújo, M. F. D. S., Rocha, M. B. & Palma, A. | Análise dos discursos e imagens presentes no capítulo sobre Educação Física Escolar no Guia de Atividade Física para a População Brasileira | |
Torres, E. G. C., Cardoso, L. C. R., Gaia, P. P., Fernandes, R. M. & Almeida, D. M. F. D. | Corpo e cultura na perspectiva da formação docente em educação física | |
Mota, J. F., Ferreira, E. M., Freitas, R. F. D. & Reis, S. V | Curso virtual de futebol e formação humana: análise dos elementos históricos e pedagógicos | |
Boccati, P. A. & Santos Neto, S. R. S. | Alasdair MacIntyre e a Filosofia do Esporte: uma discussão comparativa sobre o conceito de prática | |
Pensar a Prática | Silva, C. R.; Monteiro, L. C. G. M. & Fernandes, M. M. | Possibilidades de ensino remoto para a educação física: análise de videoaulas planejadas para o 4° ano do ensino fundamental |
Rodrigues, A. | Docência em Educação Física na interface com o atletismo: percursos (auto)biográficos | |
Bufalo, R. S.; Jesus, G. B. & Impolcetto, F. M. | O "Estado da Arte" da Capoeira em periódicos nacionais: Ênfase nos estudos sobre práticas pedagógicas | |
Nascimento, C. P. | A expressão cultura corporal na obra Metodologia do Ensino de Educação Física | |
Coelho, M. C., Nunes, L. O. de, Rocha, L. O., Araújo, S. N. & Bossle, F. | Reconectar a educação física à escola: um desafio pós-pandêmico |
Revista | Autoria | Título |
Motrivivência | Araújo, M. L. B. & Bossle, F. | A saúde de quem? Uma etnografia crítica sobre a saúde na Educação Física do ensino médio de uma escola da rede estadual pública de Uruguaiana-RS |
Lima, E. S., Pessoa, K. L. E. C. & Pereira, A. S. M. | Dentro e fora da norma: corpos que subvertem a norma hegemônica de gênero e sexualidade nas aulas de Educação Física | |
Pimentel, F. C., Andrade, L. C. & Santos, M. V. C. | Educação Física cai no Enem: professor, você sabe quais foram os conteúdos mais recorrentes entre 2009 e 2019? | |
Maldonado, D. T. & Neira, M. G. | Práticas corporais, justiça social e Educação Física: análise de experiências de docentes da educação básica | |
Almeida, J. R. & Sousa, T. R. M. | Grupo de ginástica na estratégia saúde da família: experiências à luz da clínica histórico-cultural | |
Amusquivar, S. O. & Nunes, M. L. F. | Análise das publicações acadêmicas sobre a Educação Física no currículo do estado de São Paulo | |
Januário, T. A., & Gariglio, J. A. | Proposta de planejamento de ensino para a Educação Física no ensino médio: uma construção em diálogo com jovens de uma escola da rede estadual de educação de Minas Gerais | |
Ramalho, C. C., Santos, J. V. S., Cardoso, F. S. & Pereira, M. G. M. | Gênero nos currículos dos cursos de licenciatura e bacharelado em Educação Física nas universidades de Minas Gerais | |
Ilha, F. R. S., Antunes, D. D. & Teixeira, F. S. | Impactos da pandemia na formação universitária | |
Movimento | Leite, L. S. G. P., Costa, A. Q., Oliveira, M. R. R. & Araújo, A. C. | O ensino remoto de educação física em narrativa: entre rupturas e aprendizados na experiência com a tecnologia |
Brasil, D. V. C., Rodrigues, G. S. & Paes, R. R. | Referências e referenciais para o ensino do Basquete 3x3 da Educação Física Escolar | |
Bagnara, I. C. & Boscatto, J. D. | Multidimensionalidade dos conhecimentos: uma proposição para o ensino da Educação Física | |
Manske, G. S. | Práticas Corporais como conceito? |
Tendo em vista, portanto, a já notada quantidade de menções ao livro, tal como quais foram os artigos que contaram com tais menções, buscaremos refletir em como foram estas citações, de forma a perceber o caráter de cada uma delas, o que irá contribuir para a discussão que virá em seguida.
Sob esta compreensão, pode-se perceber temas diretamente relacionados ao livro em questão em dois dos artigos apresentados na tabela: A aula crítico-superadora na Educação Física: fundamentos e princípios da lógica dialética (Lorenzini, Melo & Souza, 2022); e A expressão cultura corporal na obra Metodologia do Ensino de Educação Física (Nascimento, 2022), em que o primeiro visa tratar da concepção ponderada pelos autores da obra, enquanto o segundo, de seu objeto de estudo e reflexão (assim podemos dizer quanto a expressão da cultura corporal).
Entretanto, em uma análise mais aprofundada, compreende-se que o objeto de pesquisa do primeiro não está diretamente ligado ao livro, e sim indiretamente. O objeto tratado é a aula crítico-superadora (ACS), presente nos documentos curriculares da rede pública da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco (SEDE). Assim, ao analisar alguns dos principais documentos para a pesquisa em questão, os autores já puderam perceber que estes são pautados – e fundamentados – na concepção crítico-superadora do Coletivo de Autores, como é o caso dos Parâmetros Curriculares de Pernambuco (PCPE), por exemplo (Lorenzini et al., 2022).
Deste modo, os autores percebem a Educação Física Crítico-Superadora (EFCS) e a Prática Pedagógica (PP), enquanto “categorias teóricas orientadoras do objeto investigado” (p. 2), de forma a concluir que:
Os documentos investigados revelaram que a reorganização do espaço-tempo de aula na EFCS potencializa no estudante a aprendizagem e o desenvolvimento das ações, do pensamento, da linguagem, dos sentimentos, dentre outros, quando o professor ensina via método pedagógico que tematiza os fenômenos da cultura corporal, qualificando sua PP (Lorenzini et al., 2022, p. 7).
Assim, o objeto de estudo em questão, ainda que busque evidenciar um contexto educacional – e de políticas neste sentido – parece estar inerente ao que buscamos enquanto reflexão advinda do livro Metodologia do Ensino da Educação Física, seja pela sua influência nestas políticas, seja pela relevância de sua concepção enquanto potencializadora de aprendizagem, desenvolvendo os diversos componentes já citados pelos autores e qualificando sua prática pedagógica.
Acerca de Nascimento (2022), é neste artigo que a obra do Coletivo de Autores é apresentada como objeto de estudo, destacando as suas contribuições nestes 30 anos de sua primeira publicação. Para a autora, citando indiretamente Taffarel (2016) e Tenório, Paiva, Lorenzini, Brasileiro e Souza Júnior (2020):
Trinta anos após a publicação do livro Metodologia do Ensino de Educação Física, que deu origem à proposição pedagógica Crítico--Superadora, as contribuições dessa perspectiva seguem sendo reconhecidas, quer pelo seu marco pedagógico – por apresentar uma primeira proposição propriamente curricular para a Educação Física escolar, explicitando um projeto formativo, uma concepção de sujeito, de escola e de sociedade –, quer pelos seus desdobramentos acadêmicos – objetivados em teses, dissertações e artigos [...] (Nascimento, 2022, n.p.).
Portanto, a autora apresenta no decorrer do texto aspectos que tenham corroborado para a fundamentação de elementos no contexto da cultura corporal – aqui, seu objeto de estudo. No artigo, foi buscado também refletir quanto a algumas interpretações do conceito de cultura corporal. Assim, em relação à cultura corporal enquanto objeto de ensino, a autora apresenta:
Ainda que a sistematização de um objeto de ensino pressuponha a existência e a compreensão de um determinado grupo de fenômenos que compõe uma área de conhecimento, evidenciar a formulação da cultura corporal como objeto de ensino tende a melhor explicitar a problemática atual de sistematização dos conteúdos a serem ensinados e aprendidos em Educação Física na escola. O conceito de cultura corporal como objeto de ensino não se esgota na definição de seus exemplares (jogo, luta, dança etc.), mas requer a sistematização de quais conhecimentos efetivamente tomarão parte da atividade pedagógica ao se ensinar cada um desses fenômenos (Nascimento, 2022, n.p.).
Neste sentido, o artigo acima discutido representa um pouco do que buscamos neste estudo, apresentando-nos a relevância e a atualidade da obra no campo da educação física escolar. Para tanto, Nascimento (2022, n.p.), citando Soares et al. (1992), reflete:
Uma das principais potencialidades da perspectiva teórica delineada pelo Coletivo de Autores está na possibilidade de se formular novas questões em relação à prática pedagógica da Educação Física, o que materializa o sentido da afirmação de que a obra do Coletivo de Autores é um clássico: suas problemáticas seguem permitindo a formulação de novas questões que, não obstante, expressam a mesma “vontade política de construção de uma teoria geral da Educação Física que consubstancie uma prática transformadora” (Soares et al. 1992, p 43 citado em Nascimento, 2022, n.p.).
Outros estudos utilizam o Coletivo de Autores como forma de definir conceitos inerentes à educação física ou para tratar do livro a partir de seu contexto histórico, sem que haja reflexões mais robustas para tal. Entretanto, esta abordagem parece nos ser interessante na perspectiva de o livro ser tratado como um clássico, o que o dá a possibilidade de nortear questões importantes ao campo, mesmo que as pesquisas não tratem especificamente deste tema.
Tratando do livro em uma perspectiva histórica, Mendes e Barbosa (2022) o levam à pesquisa ao buscar referências que tratassem do conceito “social” na Educação Física brasileira nas décadas de 1980 e 1990. Assim, o livro citado faz parte de um corpus de 11 livros definidos pelos autores para os fins da pesquisa, sendo 9 das décadas citadas – o que inclui o livro Metodologia do Ensino da Educação Física – e mais dois posteriores a estas. Além disso, os autores refletem sobre uma “visão determinista a respeito da capacidade de alienação dos conteúdos da Educação Física” (Mendes & Barbosa, 2022, p. 4) a ser corroborada pelo Coletivo de Autores.
Outras pesquisas visam apenas apontar para o livro Metodologia do Ensino da Educação Física com o intuito de indicar a sua abordagem e tendência pedagógica, tal como sua proposta de dinâmica curricular, ou enquanto uma possibilidade de entendimento daquilo que foi definido como cultura corporal e seus componentes – a luta, os jogos, a dança, os esportes e a ginástica (Boscatto & Bagnara, 2022; Bagnara & Boscatto, 2022; Silva, 2022; Torres et al., 2022; Mota et al., 2022; Boccati & Santos Neto, 2022; Brasil, Rodrigues & Paes, 2022; Manske, 2022; Silva, Monteiro & Fernandes, 2022; Rodrigues, 2022; Maldonado & Neira, 2022; Ilha, Antunes & Teixeira, 2022).
No que se refere aos conteúdos propostos pelo Coletivo de Autores (2012), foi encontrado um artigo sobre o tema da Ginástica, que optou por se pautar nas abordagens do livro, com um caráter introdutório acerca da história desta manifestação, além de apresentar os fundamentos debatido pelos autores do livro, junto à uma compreensão sobre sua legitimidade e importância (Almeida & Sousa, 2022).
Outras reflexões encontradas nos artigos se dão ao citar o livro como uma referência capaz de nos elucidar o processo histórico apresentado, de forma a refletir – e criticar – sobre as anteriores tendências voltadas à esportivização, militarização e ao tecnicismo, tal como o caráter médico-higienista destas abordagens, refletidos a partir de uma racionalização daquilo que tínhamos – e ainda lutamos pelo fim deste processo – como Educação Física (Leite et al., 2022; Coelho et al., 2022; Ramalho et al., 2022).
Bufalo, Jesus e Impolcetto (2022), nos mostram além disso, a presença de citações do Coletivo de Autores para um entendimento do processo histórico para a Capoeira, importante manifestação da cultura corporal, que segundo os autores do livro não deve ser separado “de sua história, transformando-a simplesmente em mais uma ‘modalidade esportiva’” (Coletivo de Autores, 2012, p. 75). Desta forma, além da proposição de uma nova abordagem para tal prática corporal, o livro parece ser também uma importante fonte para o tratamento de uma contextualização solidificada desta prática.
Como apontam Soares et al. (1992 citado em Bufalo, Jesus & Impolcetto, 2022, n.p.), “a capoeira expressa a voz do oprimido na sua relação com o opressor, reflete em seus movimentos a luta pela liberdade do negro no Brasil escravocrata.” Para os autores, ainda, “a prática da capoeira simbolizava a saudade da própria terra e da liberdade perdida, que através de seus movimentos, utilizava o próprio corpo como arma” (Soares et al., 1992, citado em Bufalo, Jesus, & Impolcetto, 2022, n.p).
Malacarne et al. (2022), ainda que também tenham buscado refletir acerca do caráter histórico do livro, o utilizam como importante base para outras reflexões, chegando ao seu objeto de estudo – os discursos e imagens presentes no capítulo sobre Educação Física Escolar no Guia de Atividade Física para a População Brasileira. Desta forma, procuram abordar algumas questões trazidas pela obra, como por exemplo: o entendimento quanto aos discursos médicos e de defesa da pátria nos currículos escolares à época; suas percepções voltadas à superação de uma visão reduzida da disciplina Educação Física; e a necessidade de uma nova abordagem pautada nas necessidades da classe trabalhadora.
Outra citação ao livro se dá em pesquisa que busca apontar para as relações entre as reformas educacionais a partir do Global Education Reform Movement (GERM) e a Educação Física. A nível nacional, os autores refletem sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e como seu viés mercadológico se afasta do que fora ponderado por autores do campo crítico da educação física, dentre eles o Coletivo de Autores. Assim, os autores refletem que tais ensinamentos
[...] sobre o desenvolvimento da autonomia dos estudantes, as problematizações de modo crítico sobre os conteúdos e as manifestações da Educação Física na vida adulta estão sendo deixados para trás, pois esses processos estão sendo esmaecidos (Silva, Madela & Wittizorecki, 2022, p. 6).
Já em outra pesquisa, que busca abordar uma etnografia crítica sobre a saúde na Educação Física do ensino médio de uma escola da rede estadual pública de Uruguaiana-RS, de Araújo e Bossle (2022), apesar de referenciar o livro, não conta com nenhuma citação direta ou indireta a ele.
Foram encontrados também dois artigos (Lima, Pessoa & Pereira, 2022; Amusquivar & Nunes, 2022) com apenas uma citação em nota de rodapé, em que o primeiro evidenciou a escolha da escola e de seus conteúdos a partir do proposto pelo livro e o segundo, ao optarem pela utilização da escrita “tema/temática” em detrimento de “conteúdo” e “tema”.
Para tanto, a primeira abordagem – de forma mais enfática – pode ser complementada com Pimentel, Andrade e Santos (2022). Os autores, que também buscam refletir sobre a importância do aprendizado dos conteúdos da cultura corporal, além de apresentar algumas das características destas manifestações como “lúdicas, artísticas, axiológicas, agonísticas, políticas, históricas e vinculadas a saúde” (Soares et al., 1992 citado em Pimentel, Andrade & Santos., 2022, p. 14), assumem “a compreensão de que quando falamos de “conteúdos” estaremos falando de “conhecimentos” historicamente produzidos (Pimentel et al., 2022, p. 9. Grifos dos autores).
Januário e Gariglio (2022), trazem ainda mais reflexões acerca da questão do conteúdo evidenciados a partir do livro, em um outro artigo. Desta forma:
O conteúdo deverá estar vinculado à explicação da realidade social concreta e oferece subsídios para a compreensão dos determinantes sócio-históricos que estruturam a formação dos alunos. Esse princípio vincula-se a outro: o da contemporaneidade do conteúdo, de modo que os educandos se mantenham informados dos acontecimentos nacionais e internacionais, bem como do avanço da ciência e da técnica (Castellani et al., 2014, citado em Januário & Gariglio, 2022).
A partir desta primeira análise, notamos, portanto, um total de 27 artigos com referências ao Coletivo de Autores. Estes artigos estão divididos entre as quatro revistas propostas, de forma que a Revista Brasileira de Ciências do Esporte e a Motrivivência tenham contado com maior número de referências, nove – ainda que a primeira contasse com maior percentual de artigos com referência em relação ao total de artigos. Já a revista com menor domínio de artigos com estas menções foi a revista Movimento, com apenas quatro artigos.
Nestes artigos, as menções ao livro ocorreram de diferentes formas, são elas, de maneira geral: dois artigos que trataram especificamente de objetos de estudo inerentes ao livro Metodologia do Ensino da Educação Física sendo um – sem grandes pormenores – tratando mais especificamente da abordagem crítico-superadora, ainda que de forma indireta, e outro do conceito de cultura corporal; um artigo que apresenta o livro enquanto importante referência ao tratar do conceito “social” na Educação Física brasileira; 12 o utilizam apenas, grosso modo, para indicar a abordagem proposta pelo livro e sua tendência pedagógica; 3 o tratam como importante referência para entender o contexto histórico da Educação Física e suas tendências no Brasil; 1 o aponta como importante livro para debater diversas questões atreladas à Ginástica e um sobre a Capoeira; um artigo o apresenta como base para o estudo ao apontar também o caráter histórico abordado pelo livro; um o utiliza para refletir como as reformas educacionais no Brasil que trataram da Educação Física contaram com um afastamento daquilo que foi construído pelo campo crítico – o que inclui o Coletivo de Autores – da área; 2 artigos apresentaram o livro em notas de rodapé (o primeiro ao definir a escolha da escola e seus conteúdos enquanto objetos da pesquisa, e o segundo ao trazer uma reflexão sobre o conceito “conteúdo”); o último conceito – “conteúdo” – também foi abordado em outros dois artigos com menções ao livro; e, por fim, apenas um artigo apresenta o livro enquanto referência mas não o cita direta ou indiretamente.
4. Considerações finais
O estudo em questão buscou analisar a produção científica acerca da obra Metodologia do Ensino de Educação Física após 30 anos de sua publicação. Desta forma, foram analisados todos os artigos publicados durante o ano de 2022 em quatro importantes revistas no campo das ciências humanas da Educação Física no Brasil.
Como apresentado nos resultados, foram encontrados 27 artigos que continham referência ao livro, sendo suas menções destinadas a diferentes formas de abordagem daquilo que foi proposto na obra. Sendo assim, uma primeira reflexão se dá em relação à vastidão destas reflexões, de forma que o livro não tenha apresentado apenas uma nova perspectiva ou abordagem para as aulas de Educação Física Escolar, mas sendo uma importante fonte na construção de uma perspectiva histórica do campo e de diferentes manifestações da cultura corporal, além de ser um indicativo para a construção de políticas públicas na área, debates acerca de conteúdos e sua estruturação. Um dos artigos apresenta o Coletivo de Autores como uma importante obra para o entendimento do “social” na Educação Física, o que corrobora com a nossa perspectiva neste estudo, assim como a escolha dos periódicos para a busca pelos estudos.
Tendo em vista algumas de nossas considerações em conjunto com uma análise aprofundada dos artigos aqui citados, é evidente que o livro Metodologia do Ensino da Educação Física, do Coletivo de Autores, ainda se apresenta de maneira expressiva na literatura científica mesmo após 30 anos de sua publicação, tendo em vista a quantiosa aparição deste livro enquanto referência de artigos que tratam dos mais distintos temas, nos saltando aos olhos, inclusive, a não ocorrência de trabalhos críticos à obra, como os realizados por Oliveira (2001)1 e Caparroz (1996)2, que fogem do nosso recorte de tempo.
Apesar disso, um dos artigos aponta para um afastamento do que foi construído pelo campo crítico da Educação Física pelas novas reformas na Educação, que interferem direta ou indiretamente na esfera desta disciplina, por exemplo. Deste modo, é essencial que mais estudos busquem trazer reflexões voltadas à pertinência do livro, ainda que optem por investigar falhas e/ou novas abordagens na perspectiva de não se perder de vista aquilo que foi inicialmente ponderado, investiguem a não ocorrência de trabalhos críticos à obra e o campo ideopolítico em que o Coletivo de Autores está majoritariamente, mas não exclusivamente situado – o marxismo.
O presente artigo, portanto, apresenta a possibilidade de reflexão sobre o “envelhecimento” da obra sob a perspectiva de sua presença em artigos científicos, apresentando-se também a necessidade de estudos com outros recortes temporais e objetos de análise. Neste sentido, ações voltadas ao “não-esquecimento” de uma obra tão significativa para a construção do campo que temos consolidado hoje podem ser tomadas a partir de seções temáticas, mesas e congressos voltadas ao resgate, tanto da abordagem crítico-superadora e o debate da cultura corporal, quanto ao caráter histórico que culminou no surgimento de um movimento renovador da Educação Física, aqui exemplificado pelo Coletivo de Autores, mas que não se encerra nele.
Declaración de autorias
Escrita original – Metodologia e Resultados | Bernardo Jordano Gomes |
Supervisão e orientação | Marcelo Paula de Melo |
Redação - revisão e edição | Bruna Medina |
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Notas
Recepción: 19 Abril 2024
Aprobación: 30 Septiembre 2024
Publicación: 01 Octubre 2024