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O processo de inclusão sob a ótica de pessoas com deficiência e de Profissionais de Educação Física na natação
Resumo: A inclusão das pessoas com deficiência nas práticas esportivas pode resultar na melhora da aptidão física e motora, a vivência de novas experiências e redução do distanciamento social. Assim, o presente trabalho objetivou identificar as percepções das Pessoas com Deficiência (PcD) e de profissionais de Educação Física referente ao processo de inclusão por meio da natação. No que se refere a metodologia, trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, com a utilização das técnicas de revisão bibliográfica e pesquisa de campo, com entrevista semiestruturada e para apreciação dos dados e resultados a análise de conteúdo. Essa pesquisa apresentou como resultados positivos a natação como uma das possibilidades esportivas capaz de promover a inclusão, sendo importante e gratificante para o reconhecimento que começam a ter, tanto pessoal como profissionalmente. Conclui-se que, a prática e a vivência da natação sugerem benefícios físicos, psicológicos e sociais, aumentando sua capacidade funcional, reabilitação, inclusão, socialização e saúde do praticante.
Palavras-chave: Inclusão, Pessoa com Deficiência, Natação, Educação Física.
The process of inclusion from the perspective of people with disabilities and Physical Education professionals in swimming
Abstract: The inclusion of people with disabilities in sports can result in improved physical and motor fitness, exposure to new experiences and reduced social distancing. Thus, the present work seeks to identify the perceptions of people with disabilities (PwD) and Physical Education professionals regarding the process of inclusion in swimming. Regarding the methodology, this research adopts a qualitative approach, using the techniques of literature review and field research, with semi-structured interviews for content evaluation and analysis of data and results. This research yielded positive outcomes, highlighting swimming as a viable sport for fostering inclusion, important and rewarding for the recognition gained by swimmers, both personally and professionally. In conclusion, the practice and experience of swimming provide physical, psychological and social benefits, increasing functional capacity, rehabilitation, inclusion, socialization and health of the exercisers.
Keywords: Inclusion, People with Disabilities, Swimming, Physical Education.
El proceso de inclusión desde la óptica de personas con discapacidad y de profesionales de la Educación Física relacionados a la natación
Resumen: La inclusión de personas con discapacidad en las prácticas deportivas puede suponer una mejora de la aptitud física y motriz, la vivencia de nuevas experiencias y la reducción del distanciamiento social. De ese modo, el trabajo buscar identificar las percepciones de personas con discapacidades y de profesionales y de Educación Física relacionadas con la natación. En cuanto a la metodología, se trata de una investigación con enfoque cualitativo, utilizando las técnicas de revisión de literatura e investigación de campo, con entrevistas semiestructuradas para evaluación de contenido y análisis de resultados. Esta investigación presentó resultados positivos relacionados con la natación como una de las posibilidades deportivas capaces de promover la inclusión, debido a lo importante y gratificante que resulta para el reconocimiento que esas personas comienzan a adquirir tanto en lo personal como en lo profesional. En conclusión, la práctica y experiencia de la natación sugiere beneficios físicos, psicológicos y sociales, aumentando la capacidad funcional, la rehabilitación, inclusión, socialización y la salud del practicante.Palabras clave: Inclusión, Persona con Discapacidad, Natación, Educación Física.
Introdução
O processo de inclusão da pessoa com deficiência (PcD) nas diferentes práticas corporais como o esporte deveria ser abordado com frequência em diferentes áreas do conhecimento como a Educação Física, Ciências do Esporte, Medicina, Fisioterapia, Psicologia e pela sociedade como um todo, vez que a possível restrição desses indivíduos na prática de atividades/exercícios físicos ou do esporte/lazer pode conduzir a redução da capacidade física, da eficácia dos movimentos ou do desenvolvimento da aptidão motora, bem como não se sentir emponderado, causando um distanciamento social e a não vivencia de novas experiências (Bagnara, 2010).
Assim, entre as diferentes possibilidades de atividades físicas e/ou práticas esportivas, a natação seria uma opção para a PcD. Para Bichusky e Prado Junior (2013) existe pouca participação da PcD nas aulas de natação nos dias de hoje, necessitando uma maior divulgação para inclusão desta prática na rotina dessas pessoas. De acordo com Pestana et al. (2018, p. 10) a especialização esportiva promove, por exemplo, “redução da massa corporal e melhora no equilíbrio, na potência muscular de membro inferior, na resistência e força muscular de membro inferior e superior e na coordenação”.
Da mesma maneira, a prática constante de exercícios físicos é essencial para a PcD e de acordo com Prado Junior (2007 apudBichusky e Prado Junior, 2013) há a necessidade de possuir competência sobre as características dos diferentes tipos de deficiências, suas limitações e potencialidades. Pestana et al. (2018, p. 9) alegam que os principais benefícios dos programas de atividade física, a partir de seus estudos, “foram relacionados aos componentes da capacidade física, como força muscular, capacidade aeróbia, equilíbrio, coordenação e agilidade, ao bem-estar psicológico, como a ansiedade, à saúde, como gordura corporal, pressão arterial e colesterol, e qualidade de vida.
Especificamente, de acordo com Tsutsumi et al. (2004), para pessoas com deficiência, a natação tem valor terapêutico, recreativo e social. Além disso, traz grandes contribuições para o processo de reabilitação e pode reduzir o grau de fraqueza e de complicações.
A natação é uma prática corporal – um esporte – que propicia aos indivíduos, com alguma deficiência benefícios, o desenvolvimento da coordenação, condicionamento aeróbio, redução a espasticidade, e resulta em menos fadiga que outras atividades, apresentando facilidades em sua vivência proporcionados pela execução de movimentos do corpo imerso na água (Prado Junior, 2007 apudBichusky e Prado Junior, 2013). Da mesma maneira, além dos aspectos físicos, os aspectos sociais e psicológicos, são relevantes no desenvolvimento e, conforme pontua Resende et al. (2021), a questão psicológica pode ser associada, por exemplo, a fatores relacionados à motivação, com características de resiliência, que poderão contribuir para uma melhor qualidade de vida desses indivíduos e para o futuro pessoal e profissional no esporte.
Mediante os indicativos apresentados emergem algumas indagações para este estudo: como é para a PcD o processo de integração no meio aquático? Quais as possíveis dificuldades que sentiram ou sentem em todo o processo de inclusão? Quais mudanças ocorrem na vida desses indivíduos a partir da inserção na natação?
Esses e outros questionamentos podem emergir, algumas poderão encontrar suas respostas e outros carecem de aprofundamento em estudos que busquem compreender esse cenário. Posto isso, a intenção nesse estudo foi identificar as percepções da PcD e de profissionais de Educação Física referente ao processo de inclusão por meio da natação.
Métodos
As estratégias para realização dessa investigação escolheram-se através da pesquisa de natureza qualitativa, pois se entende que é necessário compreender as particularidades dos indivíduos participantes, seu histórico, sua identidade social, seu lócus no grupo social em que vive, neste caso foi o local de prática/vivência da natação.
A pesquisa “trata-se de uma ocasião privilegiada, reunindo o pensamento e a ação de uma pessoa, ou de um grupo (profissionais de Educação Física e PcD que praticam natação), no esforço de elaborar o conhecimento de aspectos da realidade que deverão servir para a composição de soluções propostas aos seus problemas” (Lüdke e André, 1986, p. 02). Nesse sentido, Triviños (1992, p. 133) salienta que o “pesquisador orientado pelo enfoque qualitativo, tem ampla liberdade teórico-metodológica para realizar seu estudo”.
A pesquisa qualitativa é aquela onde existem possibilidades de analisar e estudar os fenômenos e relações sociais dos seres humanos em diversos ambientes, valorizando o contato direto da situação estudada e do pesquisador (Godoy, 1995).
Para este estudo escolheu-se como técnicas a pesquisa bibliográfica exploratória e a entrevista semiestruturada. Na primeira, ocorreu a leitura e análise das fontes secundárias de informação (livros, artigos de periódicos, por exemplo, na base de dados Periódicos da Capes, Scielo, Scholar Google, entre outros), sem definição de data específica, dado a carência de artigos específicos que atediam ao objetivo dessa pesquisa e os descritores utilizados para a busca foram: Educação Física adaptada, pessoas com deficiência, inclusão, natação. A leitura do material analisado teve a finalidade de embasar a revisão de literatura e subsídio para a discussão dos resultados, uma vez que a “pesquisa bibliográfica deve estar a serviço do problema de pesquisa” (Alves-Mazzotti e Gewandsznajder, 1998, p. 179-180).
Já, a segunda técnica se deu pela pesquisa campo com a realização de entrevista semiestruturada, de acordo com Amado e Ferreira (2002) este tipo de entrevista constitui-se como uma fonte oral de análise, a qual se legitima como uma fonte histórica, dado seu valor informativo e por incorporar perspectivas ausentes na literatura.
A entrevista semiestruturada seguiu um roteiro de questões elaboradas previamente pelos pesquisadores, com foco no objeto de estudo, mas com a flexibilidade de adicionar outras questões para sanar dúvidas que surgissem no decorrer da mesma. Durante a entrevista, “o pesquisador pode reformular questões e fazer mais algumas perguntas para esclarecer as respostas e assegurar resultados mais válidos” (Thomas e Nelson, 2002, p. 34).
Assim, a coleta de dados, pesquisa de campo (entrevista semiestruturada), se realizou em uma academia de natação, em uma cidade do centro oeste do Estado de São Paulo. A escolha do local foi intencional e levou em consideração a oferta da natação para PcD, e foram convidados a participarem da pesquisa os praticantes com alguma deficiência e profissionais de Educação Física que trabalham nesse campo.
O roteiro de perguntas aplicado na entrevista foi composto de cinco questões abertas, sendo elas: Como a PcD se sente no processo de inclusão? Como os profissionais trabalham o processo de inclusão? Quais as possibilidades de chegar à profissionalização do deficiente na natação? Como foi o processo de inicialização da natação até o momento? A PcD se sente incluído na aula de natação?
Quanto aos participantes da pesquisa foram 13 indivíduos, sendo 10 PcD praticantes de natação e três Profissionais de Educação Física (PEF) que ministram aulas/treinos de natação. No quadro 1, apresentam-se os participantes, a classificação das deficiências e idade, sendo que são: três deficientes físicos, dois visuais, quatro intelectuais e apenas um com deficiência física e intelectual. E no quadro 2 os PEF, com suas respectivas idades e tempo de atuação profissional com a natação.
Para realização da pesquisa de campo, entrevista semiestruturada, foi solicitado que os participantes assinassem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ou o Termo de Assentimento (para menores), com a explicação dos objetivos do trabalho, o qual foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa das Faculdades Integradas de Jaú.
Obtidos os dados, optou-se pela análise de conteúdo para a apreciação dos dados, entendida como “um conjunto de técnicas de análises das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens” (Bardin, 2009). E para a análise dos resultados foram compostos por três etapas básicas, conforme pontua Bardin (2009): a pré-análise, a exploração do material ou descrição analítica e o tratamento dos resultados e interpretações.
Assim, as categorias propostas seguem a partir do agrupamento das perguntas iniciais da entrevista semiestruturada, tendo em vista a proximidade de assuntos elencados por elas. Esse agrupamento foi realizado para compreender as falas dos participantes da pesquisa e na composição que seguem no texto. Nesse sentido, Bardin (2009) coloca que o pesquisador tendo à sua disposição resultados significativos, poderá propor inferências e adiantar interpretações referentes aos objetivos propostos ou a descobertas inesperadas.
A natação para a pessoa com deficiência
Ao realizar uma busca exploratória sobre a temática na literatura observou pouca produção nacional que aborda sobre a natação adaptada, entretanto, identificou-se em algumas obras o uso de exercícios na água era recomendado, por exemplo, no final do século XIX e início do século XX, os exercícios aquáticos começaram a ser utilizados como meios corretivos eficientes, mais tarde, novos métodos surgem ressaltando o valor do exercício terapêutico dentro da água (Tsutsumi et al., 2004). Todavia, nos últimos anos tem havido uma tendência para aumentar a concorrência em esportes para deficientes, especialmente nos tipos incluídos no programa dos Jogos Paralímpicos, como a natação.
Apesar desse aumento, ainda são poucas pessoas com deficiência envolvidas na atividade física e para Morocho et al. (2021, p. 2695) “a prática de natação e atividade física em geral, além de proporcionar múltiplos benefícios à saúde para quem a pratica, pode também tornar-se uma ferramenta para a integração das pessoas com deficiência na sociedade”. Esses autores consideram que muitas vezes são os familiares das PcD que limitam certas atividades por considerarem perigosos para eles, geralmente limitam as atividades físicas e trazendo como consequência o sedentarismo, com altos índices de obesidade e baixa autoestima para a PcD (Morocho et al., 2021).
Sendo assim, entre os desportos existentes a natação seria um dos mais aconselháveis como atividade terapêutica e segundo Vieira (2009), por ter virtudes terapêuticas e recreativas, essa prática para a PcD, deve ser estimulada como forma de lazer; do ponto de vista fisiológico essa prática melhora a capacidade cardiovascular, força muscular, resistência e função respiratória. Diaz e Diaz (2021) alegam que um programa especial de natação foi projetado para PcD como uma forma de recreação, esporte, exercício ou sobrevivência, onde esses indivíduos podem flutuar e nadar ou podem usar braço enquanto flutua executando as diferentes atividades de natação que irão desenvolver suas habilidades físicas e aumentar seu nível de prazer.
Para Radziejowski et al. (2022) o treinamento de nadadores com deficiência teria uma especificidade própria devido às suas características físicas e psicológicas. Pesquisas revelam diferentes aspectos este problema, todavia, apenas alguns cientistas em seus estudos revelam as peculiaridades de estudar os treinamentos de natação competitivos para um grupo tão especial de pessoas (Radziejowski et al., 2022).
Entre outras possibilidades, as atividades motoras na água visam o aumento das áreas cognitivas, afetivas, emocionais, fisiológicos e sociais, tornando-se um ótimo meio de execução motora, favorecendo o desenvolvimento global do sujeito portador de deficiência física, aumentando sua capacidade física e proporcionando maior independência funcional em atividades diárias (Tsutsumi et al., 2004).
De acordo com o estudo de Vieira (2009), um programa de natação adaptada avaliou evolução dos domínios motores, cognitivos e socioafetivos em sujeitos com deficiência intelectual e síndrome de Down, concluindo-se que com a monitoração e orientação adequada os indivíduos obtêm benefícios e evoluções. Para Muñoz Galíndez e Montes Mora (2017, p. 4) “o esporte adaptado favorece a inclusão social e, ao mesmo tempo, é um marco para fortalecer a autoestima daquelas pessoas que, por sua deficiência, ficaram socialmente invisíveis”. Além disso, a prática de atividade física em geral, pode trazer novas perspectivas para indivíduos com incapacidades físicas, incluindo novas amizades e até oportunidades de emprego, devido ao aumento da produtividade (Shephard, 1991).
Após a introdução e adaptação de movimentos básicos, tem como continuidade o trabalho das técnicas esportivas dos nados crawl, peito, costas, borboleta e utilização de recursos como pranchas, espaguetes, flutuadores, visando auxiliar o aprendizado das modalidades dos nados (Buckhardt e Escobar, 1985).
Os aspectos fisiológicos e psicológicos são influenciados pelas propriedades físicas da água, sendo elas, densidade, pressão hidrostática, viscosidade, entre outras. Através da contração e relaxamento muscular, haverá estímulos que irão desenvolver a musculatura, melhorando juntamente a postura corporal e, no aparelho locomotor, haverá uma melhora na irrigação sanguínea (Massaud e Corrêa, 2001).
Para além dessas características apresentadas anteriormente, uma das primeiras modalidades nos Jogos Paralímpicos em 1960, foi a natação adaptada e desde esse momento o número de atletas/praticantes aumenta, e é regulada pelo Comitê Paralímpico Internacional (IPC) e tem como legislador a Federação Internacional de Natação (FINA) (Fonseca, 2018).
Nesse interim, o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) estabelece, em consulta realizada no site em março de 2022, para competições de natação a seguinte classificação: físico-motora, visual e intelectual, distribuída em provas de 50m, 100m, 200m e 400m livre; 50m e 100m borboleta; 50m peito; 50m e 100m costas; 150m e 200m medley; revezamentos e a piscina segue os padrões olímpicos.
Para a realização das provas, de acordo com o CPB, ocorrem adaptações nas largadas, viradas e chegadas e recebem auxílio do tapper (equipamento utilizado para avisá-los quando estão próximos das bordas) para nadadores cegos, este que é responsável por avisá-los por meio de um bastão, quando estão perto das bordas. As baterias são separadas de acordo com o tipo e grau de deficiência, e seguem nomenclaturas como: S para nados livre, costas e borboleta; SB para nado peito e SM para nado medley. Em competições, os atletas são submetidos à equipe de classe que analisará resíduos musculares através de testes de força muscular; mobilidade articular e testes motores realizados na água, quanto maior a deficiência, menor o número da classe que varia de 1 a 10 para atletas com limitações físico-motoras; 11 a 13 para atletas com deficiência visual e 14 para atletas com deficiência intelectual. Atualmente o Brasil já conquistou 102 medalhas na natação em Jogos Paralímpicos, no total são 32 de ouro; 34 de prata e 36 de bronze, e é a segunda modalidade que mais deu medalhas para o País (CPB, s.d).
Cabe destacar que em relação à pessoa com deficiência auditiva, o CPB não é o responsável pela gestão, assim as modalidades esportivas, como a natação, são geridas pela Confederação Brasileira de Desportos de Surdos (CBDS).
Outra característica relevante a ser destacada é referente a Federação Portuguesa de Natação (FPN) ao qual constituiu uma norma de apoio com a Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência (FPDD), incluindo como objetivos para a natação adaptada, o aumento da visibilidade, a promoção da inclusão social, o apoio técnico, logístico e financeiro a sua prática.
Referente ao processo de inclusão de pessoas com deficiência nas atividades físicas e no esporte deveria ser um assunto abordado com frequência nas diferentes instâncias e profissões. A restrição desses indivíduos na prática de exercícios físicos ou do esporte pode conduzir a redução da capacidade física, da eficácia dos movimentos ou do desenvolvimento da aptidão motora (Contreira e Corazza, 2009).
Entretanto, as pessoas com deficiência que praticam a natação vivenciam experiências inéditas, respeitando seus limites, desenvolvendo todas as partes do corpo com maior ou menor intensidade gerando desenvolvimento físico, cognitivo e social. No ambiente aquático, o indivíduo tem a possibilidade de explorar e descobrir suas capacidades de realizar movimentos (Damasceno, 1992).
Quando dada uma continuidade da estimulação da PcD dentro das atividades aquáticas, estas conseguem superar suas limitações, dominar o medo, melhorar seu desempenho e ter benefícios dentro e fora da natação. É importante a criação de um vínculo entre família, o praticante com deficiência e o professor/técnico, para que haja conhecimento das áreas da deficiência, buscando as adaptações necessárias no processo de ensino-aprendizagem para atingir os objetivos (Prado Junior et al., 2014). Da mesma maneira, “é preciso pensar em uma sociedade inclusiva que pense e aja em favor das pessoas em situação de deficiência” (Muñoz Galíndez e Montes Mora, 2017, p. 10)
É essencial para os professores de natação entender as deficiências de seus alunos, de maneira que estejam cientes dos perigos, para ofertarem o máximo de amparo emocional, assim como físico, caso necessário (Keberj, 2002). Tendo em vista esses e outros apontamentos, no próximo tópico serão apresentados os resultados das entrevistas e discussão das categorias: o sentimento da PcD no processo de inclusão; a ótica sobre os profissionais trabalham o processo de inclusão; possibilidades de profissionalização do deficiente na natação; o processo de inicialização da natação; e, por fim, a inclusão da PcD na natação.
Resultados e discussão
Ao realizar a análise dos dados coletados nas entrevistas de forma individual e qualitativamente, obtive-se os seguintes resultados.
O sentimento da PcD no processo de inclusão
Na primeira questão, 12 participantes responderam ser ou estarem incluídos, de acordo com a pergunta relacionada ao sentimento do processo de inclusão como observado nas falas: P1 respondeu:
Quando eu comecei, a gente tem um pouco de medo no início, mas depois, agora, parece que a vida da gente se encaixa sabe, quando você se descobre, foi isso que aconteceu comigo, mas eu acredito que o deficiente se sente importante, na hora que ele percebe que tem importância, que ele pode fazer alguma coisa mesmo na condição que ele está.
O participante P2 respondeu destacando que:
Eu me senti incluído, assim, desde o começo das aulas, porque sempre foi junto, tinha aula junto com todas as outras crianças que não tinha deficiência, com uma ou outra que tinha deficiência diferente também, então a inclusão tá em fazer parte do grupo. Não tem uma aula diferente, uma coisa mais segregada assim [...] Era a mesma aula desde o começo, a gente só tinha algumas adaptações para fazer, mas dependendo do que ia fazer. Mas o processo de inclusão na aula, pelo menos aqui na academia, foi desde o começo [...] (P2).
De acordo com os estudos de Bichusky e Prado Junior (2013) a inclusão da natação na rotina da pessoa com deficiência além de ser um novo contexto de estimulação em busca de autonomia, gera também, motivação e aprendizagem dos participantes. Esses autores ainda destacam que a consolidação dessa atividade no cotidiano de uma instituição é definida quando essa ação (inclusão) é pensada e planejada para todos.
Já os entrevistados P4 e P9 responderam, respectivamente:
Me sinto incluído, é uma aula normal(P4).
Eu me senti bem, estou sendo incluído (P9).
Mesmo que P4 e P9 tenham relatado que se sentem incluídos, Vieira (2018, p. 207) pontua que “a estruturação de aulas adaptadas as necessidades do aluno com deficiência ainda é uma dificuldade encontrada por clubes e academias”. Nesse sentido, como exemplo, Mayer et al. (2019, p. 346) apresentam os resultados de um estudo realizado no Projeto Piracema, indicando que “denota de grande responsabilidade social, pois contribuiu na melhora e, no desenvolvimento das potencialidades individuais e no convívio social entre os integrantes”.
Vieira (2018, p. 208) chama atenção para os seus resultados ao apresenta que “77% das academias e clubes com aulas de natação para pessoa com deficiência a ofereciam de forma inclusiva, com alunos com e sem deficiência praticando a modalidade conjuntamente”. Entretanto, essa aparência de inclusão pode ser factível, e “apesar de inicialmente transparecer uma evolução no direito à inclusão, os dados acima citados, com a ausência de aulas adaptadas na maioria dos programas investigados, reforçam a ideia da inclusão física deste aluno no espaço e não o exercício do seu direito” (Vieira, 2018, p. 208).
Todavia, o participante P10 alegou não saber, uma vez que não se considera deficiente e relatou que:
Olha essa daí, nem sei como dizer, que essa daí, acho que não, acho que não sei como direito, como responder (P10).
Tendo em vista os relatos anteriores, Mazzotta e D’Antino (2011) destacam que a inclusão social se caracteriza como a participação ativa nos vários grupos de convivência social. Essa participação pode se dar também na natação e, segundo Barrozo et al. (2012), o esporte é reconhecido como um dos canais de socialização positiva e de inclusão social, se apresenta como um dos requisitos indispensáveis para que o indivíduo possa atingir a dimensão total de integração, uma tentativa de inclusão social, seria proporcionar atividades, e possibilitar a interação de todas as pessoas, sejam elas deficientes ou não em programas educacionais e de esporte adaptado, buscando valorizar a inserção.
A ótica sobre os profissionais que trabalham o processo de inclusão
A segunda questão abordou como os profissionais trabalham o processo de inclusão, os entrevistados praticantes de natação responderam que as aulas são totalmente inclusivas, sem diferenças, apenas com algumas adaptações, como apresentado por P3
Depende muito da deficiência [...], mas de modo geral, eles tentam lidar como se fosse pessoa em geral [...], a pessoa normal e a pessoa deficiente, não tem muita separação de deficiência e de técnicas [...], mas em questão de lidar sendo o profissional é mesma coisa que o convencional, não tem muita diferença [...] (P3).
O entrevistado P5 elogiou a paciência dos professores no processo de inclusão,
Eu falo assim, não é qualquer pessoa que consegue ter a paciência que é necessário, e eu falo que o pessoal que trabalha aqui sempre abraça a pessoa, não tem esse tipo de problema, sabe(P5).
Compreende-se que o profissional de Educação Física nesse cenário torna-se fundamental para o desenvolvimento de um trabalho de adequação e vivência, com o papel de definir metas, respeitando os limites impostos pela deficiência, possibilitando a estes uma posição de igualdade social (Oliveira, Santos, e Santos, 2021).
Nesse sentido, P8 destacou que o processo de ensino para a pessoa com deficiência é diferente, mas que recebe toda a atenção necessária,
O processo assim, da natação, é totalmente diferente né, de uma pessoa que não tem a deficiência, porém, aqui na academia, o profissional [...], ele tem mais atenção né, porque ele se coloca no nosso lugar antes de poder fazer qualquer outro tipo de coisa.
Nessa questão (2), referente a perspectiva dos profissionais de Educação Física ao trabalhar o processo de inclusão da pessoa com deficiência na natação. O PEF 2 respondeu que:
A gente busca o conhecimento e tenta aplicar didáticas que facilitem o aprendizado para eles (PEF 2).
Segundo Greguol (2010, p. 180) “é necessário que os profissionais envolvidos no processo sintam-se capacitados para atender a todos os alunos, independente da presença de alguma deficiência, e que lhes seja concedida a oportunidade de formação continuada”.
Para PEF 3, a importância de apresentar a PcD para a turma
Eu acho importante que o profissional, tenha um feeling dessa situação sabe, como esse aluno está na turma? É a mesma faixa etária? Porque quando tem a mesma faixa etária, é mais fácil de incluir um aluno na turma. A gente capacita o aluno apesar da deficiência dele? Tem muito profissional que às vezes não por maldade, mas por falta de conhecimento, de achar que aí, nunca vi um deficiente nadar, então até aqui que eu vou com ele, quando na verdade não, o aluno pode ir além, a pessoa com deficiência pode ir além. Eu acho que também é importante o professor vir explicar para turma, apresentar mesmo o coleguinha o que o colega tem de diferente dos outros, mas não destacar isso como fator limitante dentro de natação entendeu, ele tem a deficiência dele, mas ele pode chegar aí, onde qualquer outra pessoa que quiser, pode chegar (PEF 3).
Mediante esses relatos, cabe destacar que em relação aos conhecimentos e estudos da área de Educação Física adaptada existe a falta de informação sobre a deficiência, de participação em cursos nesta área e ainda a pouca disponibilidade de eventos que propiciassem a formação dos profissionais voltados para essa temática (Costa, e Sousa, 2004). Para Bichusky e Prado Junior (2013, p. 17) “os profissionais necessitam entender o processo de inclusão da PcD no dia-a-dia de sua prática em diferentes instituições”, bem como “há a necessidade de ter conhecimento sobre as características dos diferentes tipos de deficiências, suas limitações e potencialidades”.
Para Bichusky e Prado Junior (2013) destacam que os resultados de sua pesquisa demonstram que o profissional que atua com a natação deverá conhecer as características dos tipos de deficiência visando adequar seu processo ensino-aprendizagem, como o uso da linguagem brasileira de sinais; a utilização de equipamentos para a pessoa com deficiência física; criar um ambiente motivador repleto de estímulos a fim de manter a atenção nas atividades para autismo e/ ou deficiências mentais leves.
Possibilidades de profissionalização da pessoa com deficiência na natação
Quando questionados sobre a possibilidade de profissionalização dentro da natação, tanto praticantes de natação como os profissionais tiveram respostas unânimes, como apresentado a seguir pelo PEF 1 e PEF 2:
Eu falo que todas as pessoas têm potencial né, alguns mais, que tem um talento a mais, outras com mais dificuldade, mas que tem a chance de treinar, eu falo que tudo é treinamento, é esse aluno deficiente gostar do que ele faz, se encantar com que ele faz, e se dedicar. Nós temos nesse grupo que vocês vão entrevistar alunos que começaram que a gente nem imaginaria que estaria participando de competição, e hoje eles participam, por que o nosso objetivo é que eles tenham oportunidade de participação, e a partir daí é o estímulo, é eles melhorarem a cada treino, eles melhorarem a cada período de treinamento mais forte, e de acordo com a dedicação de cada um, vai ser a melhora e progresso deles dentro do esporte (PEF 1).
[...] é muito grande, é enorme, por que a sua deficiência não vai definir, [...], não vai gerar um obstáculo para ele, vai fazer com que ele consiga um emprego ou algo do tipo através da natação, aí depende do empenho dele (PEF 2).
Sobre o assunto, o praticante de natação P7 respondeu brevemente
Uhum, tenho [...].
Nesse interim, as técnicas dos nados utilizados nas competições paradesportivas conforme estudo realizado por Araújo (2009) são as mesmas técnicas esportivas dos nados crawl, costas, peito e borboleta, com algumas concessões a técnica formal. Da mesma forma a autora coloca que as regras aplicadas são as mesmas estabelecidas pela Federação Internacional de Natação Amadora, com algumas adaptações, principalmente, as saídas, viradas e chegadas, e as orientações para os deficientes visuais.
O entrevistado P8 destaca sobre a possibilidade de profissionalização ter crescido e também sobre a importância dos patrocínios:
Agora no momento, as possibilidades se abriram muito né, que nem, a gente conseguiu os patrocínios, eu acho um ponto de vista muito bom, porque tanto atleta quanto não atleta né, se sente mais motivado tendo a possibilidade de se formar, ter uma profissão na natação, então é muito grande agora a possibilidade [...](P8).
Posto isso, Bredariol, Antunes, Almeida (2022) alegam que além dos estudos e pesquisas na área, os recursos midiáticos tem contribuído para o crescimento da prática do esporte adaptado. Bem como, a realização de muitos eventos esportivos voltados à pessoa com deficiência forma criados nos últimos anos pelas entidades esportivas de gestão do esporte paralímpico no Brasil, como o Comitê Paralímpico Brasileiro e as Confederações, fomentando o aumento e as oportunidades de atuação no esporte de alto rendimento. A exemplo disso, algumas Federações Estaduais de esportes aquáticos, perceberam a necessidade de um maior oferecimento de competições, adicionando aos seus calendários anuais, eventos de natação exclusivos para as pessoas com deficiência.
Tal condições de ampliação da visibilidade e prática de diferentes modalidades esportivas, como a natação, o esporte pode proporcionar mudanças positivas como: melhor aceitação pessoal, culturais e educacionais gerado pela profissionalização esportiva; e aumento do reconhecimento social do atleta e da sua identificação como exemplo a ser seguido (Benfica, 2012).
O processo de inicialização da natação
A questão quatro aborda como foi o processo de inicialização da natação até o momento, os praticantes responderam como foi a experiência de cada um até o momento da entrevista e os motivos de iniciar a natação. Todavia, destaca-se nesse momento a relevância de se compreender a inicialização da natação, também, sob a ótica da Pedagogia do Esporte, esta última que se insere com destaque em todas as manifestações do esporte, e segundo Guioti, Toledo e Scaglia (2014, p. 360), “em especial nas manifestações de Esporte-Educação e Lazer, constitui o esporte educacional como ambiente emancipador e restaurador do humano no homem”.
Para esses autores a Pedagogia do Esporte teria a responsabilidade de iluminar o caminho e conduzir os envolvidos no percurso que se estabelece e para “além destes conceitos e caracterizações, há todo um debate na área da Educação Física e Ciências do Esporte acerca dos princípios que devem nortear os trabalhos desenvolvidos com todos os deficientes” (Guioti, Toledo e Scaglia, 2014, p. 361), a fim de possa proporcionar a eles, conforme pontua estes autores, uma melhor qualidade de vida em consonância com práticas esportivas dentro dos princípios da normalização, da socialização e da diversidade.
Assim, dentro do processo de inicialização da natação os participantes e os profissionais de Educação Física alegam, por exemplo, que:
[...] o processo foi desde aprender a nadar, porque eu cheguei aqui, não tinha medo de água, sabia brincar em piscina, mas eu não sabia nadar certinho, nadar crawl, costas e tal e aí rapidinho já fui aprendendo e em menos de 2 anos estava competindo, e daí para frente foi cada vez aumentando mais a responsabilidade e a carga de treino(P2).
Foi ressaltado pelo indivíduo P5 que antes de iniciar com a natação, o mesmo não se locomovia como destaca-se na resposta:
Eu comecei na natação com 4 anos aqui (na academia), eu não andava, aí vim treinando, treinando, até hoje em dia que eu já me tornei um atleta(P5).
O participante P8, relatou sobre sua patologia na coluna e que por esse motivo iniciou a natação:
Eu comecei, por conta do problema na coluna, mas depois o amor pela natação cresceu e o (Profissional) tem essa motivação e incentivo à muitas pessoas né, porque ele sabe o quão bom faz a natação, então é muito maravilhosa. Tudo, desde o mental até o físico, a natação ajuda por completo (P8).
Já a resposta do praticante P4 foi que não sentia medo, mas é notável a sua evolução quando comparado ao seu início na natação
Eu não tinha medo, sinto uma evolução desde quando comecei. Sinto uma evolução na velocidade, porque agora eu “tô” fazendo, contando tempo mais ou menos em 15 segundos ou até 14 e antigamente fazia em 22 ou 23(P4).
Morocho et al. (2021) lembra que devemos ter em conta no ensino da natação adaptada a pessoas com deficiência é que os fundamentos da natação como esporte são os mesmos e que para a realização das atividades adaptadas, os participantes e o treinador devem ter desenvolvido um nível de confiança e respeito que lhe permita realizar as atividades.
Quanto aos profissionais de Educação Física PEF 1, contou que iniciou o projeto de natação adaptada com apenas um aluno e que esse começou a se destacar e após isso foi chamando outros para fazer parte da equipe:
Dentro da nossa academia esse projeto de natação começou com um atleta, nós demos oportunidade para ele, e ele começou a se destacar, depois nós chamamos outro, outro e outro e hoje nós temos 16 atletas nessa equipe [...] o mais novo da equipe é o P4 que está com 12 anos, ele não sabia nada e agora já tá nadando crawl, costas, peito, borboleta, já participou das seletivas da paraolimpíada escolar e conseguiu se classificar nessa primeira etapa para seleção Paulista, e nós temos dentro do grupo também um atleta que está na seleção brasileira, que há 7 anos ele nada comigo, e está na seleção brasileira sub-20, [...] e está entre os melhores do Brasil, e temos outro que há 13 anos nada, [...], e nosso objetivo é estimular, [...] é isso que é importante para eles, ter essa oportunidade(PEF 1).
O PEF 2, destacou que a inicialização e as evoluções dos praticantes ocorrem através das toucas:
Cada touca tem um nível e uma forma de aprendizado. A primeira touca é adaptação ao meio líquido e a última touca, já é o aperfeiçoamento, que seria o último nível (PEF 2).
Dando continuidade, segue a resposta do PEF 3,
[...] cada touca, vai ter sua habilidade, a gente vai trabalhar e, a partir do momento que a criança vai avançando, a touca também. O meu primeiro contato quando chega um aluno, é a anamnese, eu converso com os pais, tudo que eu posso perguntar, desde o nome, do apelido, como é o tratamento em casa, se a criança é tímida, se ela é apática, se ela acredita nela. E na primeira aula, pergunto para a criança se ela já teve contato com piscina, o que ela sabe fazer, se tem medo, se não, porque é importante não forçar, é algo que vai acontecendo naturalmente, o aluno vai se entregando e você vai dando mais possibilidades para ela dentro daquilo que a natação pode oferecer(PEF 3).
Segundo Santos (2015) a natação é importante, pois, traz diversas vantagens para o organismo de seus praticantes, como: a melhora do desenvolvimento motor, afetivo e cognitivo, esses benefícios adquiridos são importantes para o desenvolvimento e serão refletidos durante toda a vida em curto e longo prazo.
Dessa forma, compreende-se que a PcD ao praticar a natação pode adquirir autonomia, causando mudanças de comportamento motor, individual e social, melhora da autoestima, além dos movimentos próprios da natação como a coordenação motora, flutuabilidade, respiração, entre outros, o que reflete nas relações socioafetivas e na realização de atividades diárias.
A inclusão da PcD na natação
A última questão que ressalta sobre o sentimento de inclusão nas aulas de natação, os praticantes relatam como é importante e gratificante todo o reconhecimento que começam a ter, tanto pessoal como profissionalmente. O indivíduo P8 descreve que se sente:
Feliz, no meu ponto de vista assim foi muito gratificante saber que a sociedade ensina a abrir os olhos para o PcD nessa inclusão (P8).
A inclusão desportiva das modalidades PcD, conforme menciona Carrizo-Páez (2021) consiste nestes objetivos em poder realizar uma atividade desportiva adaptada, mas no mesmo espaço e tempo que o grupo de pessoas sem deficiência. Para Mayer et al. (2019), são inúmeras as formas de inclusão social das pessoas com deficiências, sendo uma forma efetiva os esportes, como por exemplo, a natação, a qual apresenta vários benefícios.
Para o praticante P1 a natação é tudo, é uma renovação de esperanças após cada vitória de obstáculos, limites e aprendizados, assim como apresenta em sua fala
Na aula de natação é tudo né, a pessoa se sente bem, porque ali ela consegue fazer alguma coisa [...], a pessoa se sente muito bem, ela se encontra, ela olha assim, nossa então, eu ainda tenho esperança de vida, ainda eu posso fazer alguma coisa (P1).
A natação adaptada é planejada e implementada conforme as necessidades individuais de cada sujeito, com o intuito de favorecer um ambiente que contribua para a autonomia funcional, instigando assim na motivação e sentimento de bem-estar, ocorrendo uma possível melhora da autoestima e da qualidade de vida de quem a prática (Bilhar, e Rodrigues, 2007).
O PEF 2, descreve que os praticantes vivenciam novas experiências, se sentem emponderadas e motivadas,
Ela se sente com direito e oportunidade de poder vivenciar aquilo que ela nunca experimentou, e através das atividades, ela consegue se tornar algo que vai motivá-la muito através da vida. É como se fosse a melhor aula da vida deles, por que não fazemos distinção em nenhum momento aqui, o objetivo da academia é se tornar um membro da família, fazer parte da equipe (PEF 2).
Para Carrizo-Páez (2021) as atividades inclusivas podem ser realizado simultaneamente (ao mesmo tempo) ou em conexão (antes ou depois) com a atividade realizada por quem não tem deficiência. Isso remente a relevância se se ter um ambiente e profissionais capacitados que propiciem a inclusão da PcD em diferentes contextos, seja clube sócio-recreativo, a academia de natação etc.
Para o PEF 3, o ambiente é muito importante para ajudar o aluno a se sentir incluído e confortável,
Aqui na academia, é diferente de outros lugares, porque eles se sentem em casa, prezamos por isso, não é porque você tem uma deficiência que você é diferenciado. Então deixar esse aluno a vontade nesse ambiente, explicar para ele que apesar das limitações, ele pode chegar onde quiser, para mim a água é transformadora nesse aspecto, ela facilita a relação do professor com o aluno(PEF 3).
Nesse sentido, compreende-se que o esporte que é realizado com orientação ou entrega participativa, a inclusão exige que a PcD não esteja em espaços físicos ou momentos que não estejam relacionados à atividade esportiva que os sujeitos sem deficiência desenvolvem (Carrizo-Páez, 2021).
Sendo assim, de acordo com Amaral (1995), a sociedade não atende as especificidades das pessoas com deficiência, mas acaba por exigir uma adaptação aos padrões já estabelecidos, desconsiderando à diversidade humana. Todavia, para a autora, para mudar esses paradigmas é necessário pensar a inclusão/integração e dar voz ao indivíduo, conhecer e dialogar sobre o seu ponto de vista, indicando a ressignificação da(s) diferença(s) nas relações interpessoais.
Entretanto, em uma “situação social de desigualdade e exclusão em que as pessoas com deficiência estão imersas, o esporte adaptado surge como uma oportunidade de recriar, compartilhar com seus pares e, sobretudo, sentir-se vivo” (Muñoz Galíndez, e Montes Mora, 2017, p. 10).
Também se faz necessário compreender os profissionais de Educação Física, que atuam a partir da perspectiva da Pedagogia do Esporte, nesse sentido, segundo Guioti, Toledo, e Scaglia (2014, p. 362)
[...] o movimento deve ser o de causar uma nova reflexão e ação em relação ao trato e à forma com a qual as atividades físico-esportivas vem sido desenvolvidas nos estabelecimentos de ensino (formais e não formais), indo de encontro a um ensino tecnicista e performático, que muitas vezes favorece esta postura de superioridade durante a intervenção (que somente agrava os distanciamentos pedagógicos, sociais e humanos).
Para estes autores, isso significa que “o movimento pedagógico ao se ensinar o esporte ao ser humano é o da inclusão, da valorização das diferenças e do trato humanizador dos processos e estratégias de ensino dos esportes” (Guioti, Toledo e Scaglia, 2014, p. 362).
Dessa maneira, a necessidade premente de formação inclusiva é indiscutível, e segundo Fonseca et al. (2021, p. 13), “não deve se resumir às deficiências e os transtornos como problemas a serem sanados, sem questionar a falta de estrutura, de oportunidades, as desigualdades de toda ordem, o entorno, as relações com o mundo que nos cerca e as interseccionalidades”.
Tendo as características apresentadas acima e os resultados dessa pesquisa e discussão com a literatura, a natação seria uma das vias para promover a inclusão da PcD, aumentando a autoestima, trazendo possibilidade de profissionalização, empoderamento no âmbito da modalidade e no contexto social, proporcionando também o valor terapêutico. A natação conduz a uma expectativa positiva sobre a vida com novas oportunidades referente à inclusão de PcD.
Dentro das perspectivas dos profissionais, as metodologias de aulas inclusivas são reflexo de estudos, especializações e aprofundamento teórico/prático nessa vertente da natação adaptada, que ainda é escassa e esquecida por Profissionais da Educação Física.
Além do âmbito da inclusão, é de grande importância o incentivo do professor para com o aluno, desenvolvendo motivações para realização dos treinos, participação nas aulas e campeonatos. É importante ressaltar que muitos ministrantes limitam seus alunos, impedindo-os de ir além em sua carreira esportiva e profissional, focando somente em suas limitações, não vencendo barreiras e assim impedindo sua evolução na natação.
Considerações finais
Conclui-se que a natação é uma das vias capaz de promover a inclusão da PcD, uma vez que aplicado o questionário para os praticantes e Profissionais de Educação Física, obtivemos respostas que indicam que a inclusão ocorre com todos os participantes.
Conforme o levantamento de dados e a discussão com a literatura, a prática e a vivência da natação traz benefícios físicos e sociais, aumentando sua capacidade funcional e, também, na reabilitação, na inclusão, na socialização e na saúde do praticante.
Para isso, é importante que eles estejam inseridos em aulas ministradas por profissionais qualificados e que realmente entendam sobre a natação adaptada, não colocando limites na aprendizagem, sendo que eles podem ir além; não excluindo – os dos demais e assim resultando em sentimentos positivos aos alunos, como: empoderamento, autoestima, um novo estilo de vida, socialização e novas oportunidades.
Porém ainda ocorrem entraves acerca desse tema, sendo por consequência de poucos estudos realizados e profissionais interessados e qualificados nessa área em específico, que por muitas vezes limitam o aprendizado da PcD.
Nosso papel no processo de inclusão é essencial para desenvolver as potencialidades da PcD, respeitando barreiras, promovendo autonomia e solidariedade no ambiente social. Sendo assim, equalizar as diferenças e gerar a inclusão é mudar o olhar, gerando a empatia entre todos os membros da sociedade. Cabe, portanto, novas investigações que envolvam as PcD relacionadas aos mais diversos esportes no campo educacional, de lazer e competitivo de alto rendimento com intuito de compreender melhor o processo de inclusão.
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Recepción: 15 Noviembre 2023
Aprobación: 20 Diciembre 2023
Publicación: 01 Febrero 2024