Artículos
Concepções docentes sobre o ensino da saúde nos Anos Iniciais
Resumen: Objetivou-se analisar as concepções de professoras unidocentes sobre o ensino da saúde nos Anos Iniciais em uma escola pública. Este trabalho trata-se de uma pesquisa qualitativa exploratória e estudo de caso. Para coletar os dados, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com cinco professoras. Os resultados apontaram: 1) uma aproximação da escola e professoras com o serviço público de saúde; 2) a importância da participação das crianças em sala de aula para criar diálogos sobre questões relacionadas à saúde; 3) a abordagem de temas em torno da saúde está contemplada em projetos da escola; e 4) a escola é vista como um espaço importante para trabalhar conhecimentos em torno da saúde com as crianças. Conclui-se que, no contexto de estudo, o espaço escolar objetiva à sensibilização de atitudes positivas à vida dos educandos.
Palavras chave: Ensino, Saúde, Professor, Ensino Fundamental
Teacher Conceptions about Health Education in Primary Education
Abstract: This study proposes to analyze health education from the teacher conceptions who work in primary education at a public school. This work is an exploratory and qualitative research of the case study type. For the data collected, we carried out semi structured interviews with five teachers. The results show that: 1) there is a convergence between the school and teachers with the public service of health; 2) it is important to involve schoolchildren to facilitate dialogue regarding the health issue approach in class; 3) the health themes are approached through school projects; and 4) the researched school has seen a unique space for encouraging discussions about health with schoolchildren. In this study, we concluded that the school space aims to raise the awareness of positive attitudes towards the lives of learners.
Keywords: Teaching, Health, Teacher, Primary education.
Introdução
Este estudo parte do seguinte problema de pesquisa: “Como vem se configurando o ensino da saúde e a sua abordagem nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental num determinado espaço escolar, e de que maneira essa abordagem facilita a adoção de atitudes mais saudáveis na vida dos educandos?”. Tem-se como preocupação esses questionamentos, tendo em conta o que alguns estudos vêm apontando a respeito da abordagem de temas relacionados à saúde (Carvalho, 2001), em especial, nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental de escolas brasileiras (Dambros, Santos, Escoto, Silveira & Folmer, 2011; Lara, 2013; Santos & Folmer, 2013). Ainda mais, ao considerar o pressuposto de que o ensino da saúde tem sido um desafio para a educação escolar, no que se refere à possibilidade de garantir uma aprendizagem efetiva e transformadora de atitudes e hábitos de vida das crianças (Brasil, 1998).
Segundo Lara (2013), durante a etapa inicial da Educação Básica, as crianças apresentam-se mais receptivas a novas aprendizagens, tendendo a incorporarem hábitos de vida que podem perdurar ao longo da idade adulta. Nesse aspecto, a abordagem de temas referentes à saúde, nessa fase escolar, pode ser considerada decisiva na formação dos alunos de escolas públicas brasileiras. Lara (2013) ainda evidencia, em sua Tese de Doutorado, que esse nível de educação escolar é uma etapa fundamental para tornar vital uma abordagem de estilos de vida saudáveis com os alunos, de forma precoce.
Por outro lado, Dambros et al. (2011) trazem reflexões acerca das dificuldades relatadas pelos docentes, que lecionam nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, para trabalhar o tema saúde em suas atividades pedagógicas. Uma dessas dificuldades encontradas foi a maneira de trabalhar o tema saúde tendo em conta a baixa condição de vida da família dos alunos (Dambros et al., 2011). Com base na afirmação de Carvalho (2001), a autora menciona a respeito do deslocamento da ideia da saúde, centrada no organismo (biológico e físico), para um entendimento de questões referentes como um processo e resultado das opções na vida. A partir disso, entende-se que os assuntos relacionados à saúde, abordados no contexto dos Anos Iniciais, permitem um entendimento dos fatores envolvidos e que estão relacionados à vida dos educandos e de suas comunidades, respectivos a seus eixos familiares. Isso porque a saúde também é compreendida como resultado de inúmeras possibilidades, que abrangem as condições de vida das pessoas. Carvalho (2001) menciona exemplos como o acesso ao trabalho, aos serviços de saúde, à moradia, à alimentação, ao transporte e o lazer conquistados – por interesse ou por direito – ao longo da vida.
Darido (2012, p.29) reforça esse entendimento, mencionando que “[...] quando se fala em saúde, não podemos deixar de considerar os fatores que influenciam esse conceito, como: meio ambiente, aspectos biológicos, socioeconômicos, culturais, afetivos e psicológicos”. Além do mais, torna-se imprescindível conhecer essas condições, pois, muitas delas apresentam-se como determinantes sociais na prática de vida dos educandos (e em torno de onde eles estão inseridos). Deste modo, problematizar na escola essas questões acerca da saúde de maneira global pode vir a acrescentar e muito no processo formativo discente. Em meio a isso, considerar os diferentes fatores e aspectos envolvidos na abordagem de temas em torno da saúde traz uma possibilidade para compreender a atual preocupação dos profissionais da educação para trabalhar essas questões dentro do processo de ensino e de aprendizagem com os alunos, onde nos Anos Iniciais também podem ser “[...] explorados os assuntos relacionados ao tema transversal da saúde” (Santos & Folmer, 2013, p.46).
Como ressalta Darido (2012), faz-se questão de sugerir que o tema Saúde seja inserido dentro das escolas, afinal, conhecer, discutir, conscientizar e instrumentalizar os alunos é um dos objetivos educacionais. Igualmente, para Silva (2012), não há dúvidas que tais conhecimentos, atitudes e práticas de saúde podem ser aprendidos na escola e no seu cotidiano, principalmente no ensino fundamental, de forma sistematizada. Sendo assim, inevitavelmente, compreende-se que “as concepções de saúde que permeiam o ambiente escolar, advindas dos conceitos elaborados pelos educadores e profissionais que trabalham na escola, são possibilidades de se entender as ações ali desenvolvidas, em relação à saúde” (Lomônaco, 2004, p.63).
Com base no que foi exposto, e a fim de melhor compreender a respeito da abordagem da temática no contexto dos primeiros anos escolares da educação fundamental, o objetivo deste estudo foi analisar a concepção de professoras unidocentes sobre a abordagem de temas relativos à saúde nos Anos Iniciais, as quais trabalham em uma escola pública estadual em um município do Estado do Rio Grande do Sul (RS) no Brasil.
Metodologia
Esta investigação é qualitativa, caracterizada como uma pesquisa exploratória, quanto aos objetivos (Gil, 2008). Quanto aos procedimentos técnicos trata-se de um estudo de caso (Gil, 2008). Esta pesquisa constituiu-se em três etapas, a saber.
1ª etapa: Obteve-se a autorização da 10ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) do Estado do RS para realizar este estudo em uma escola da rede estadual de Manoel Viana - RS. O critério de seleção do local e da escola foi por conveniência. A equipe diretiva da escola selecionada participou do estudo, bem como permitiu a participação das professoras que atuam nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Cinco educadoras participaram de maneira voluntário deste estudo. Além disso, foram indicados pseudônimos (nomes de flores) para cada uma das professoras participantes, com a finalidade de lhes assegurar anonimato e sigilo das declarações. Quanto às características do perfil formativo destas professoras, percebeu-se um tempo médio de docência de 18,53 (±10,83) anos, com mínima de 4 e máxima de 30,5 anos de atuação na escola. Quanto à faixa etária dessas docentes, identificou-se uma idade média de 48 (±3,08) anos, com idade mínima de 43 e máxima de 51 anos. As professoras assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), respeitando os critérios éticos da pesquisa conforme os termos da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria (Parecer de nº. 932.522, emitido em 01/2015).
2ª etapa: Empregou-se a entrevista semiestruturada como instrumento de coleta de dados, para conhecer as concepções das professoras a respeito do tema em estudo. Em virtude do número de partícipes, acreditou-se ser coerente realizar as entrevistas a fim de obter mais elementos para o estudo. Isso porque a entrevista não se versa uma conversa informal, mas sim de uma discussão orientada para um objetivo definido, levando o entrevistador a abordar temas específicos, resultando em dados a serem utilizados na pesquisa (Rosa & Arnoldi, 2006). Usou-se um roteiro pré-definido com questões abertas, elaborado pelos pesquisadores. O mesmo foi aplicado (piloto) em outro grupo de professores, que não participaram desta pesquisa, para verificar se o instrumento atendia os objetivos propostos. A entrevista foi gravada em áudio e depois transcrita para garantir a fidedignidade dos dados. O período da coleta dos dados compreendeu a primeira quinzena do mês de dezembro de 2013. Em questão específica da entrevista, buscou-se averiguar o seguinte: “Se você fosse descrever como se dá o ensino do tema Saúde nos Anos Iniciais na instituição em que você atua, como você o descreveria?”. Após isso, os dados transcritos foram apresentados aos partícipes do estudo para verificarem, adequarem e validarem as informações no que fosse pertinente.
3ª etapa: Para analisar os dados, utilizou-se como método de análise a técnica de análise de conteúdo. Para Moraes (1999), esta constitui uma metodologia de pesquisa usada para descrever e interpretar o conteúdo de toda classe de documentos e textos. Essa análise, conduzindo a descrições sistemáticas, qualitativas ou quantitativas, ajuda a reinterpretar as mensagens e a atingir uma compreensão de seus significados num nível que vai além de uma leitura comum (Moraes, 1999). Como indica Moraes (1999), foram elencadas categorias a priori, constando a análise dos achados e a sua interpretação, na seção Resultados e discussão.
Resultados e discussão
A partir do que foi perguntado às professoras participantes deste estudo, foram criadas duas categorias que fundamentaram a análise dos resultados obtidos. Ambas categorias deram um sentido geral que representou a forma em como o ensino e a abordagem de temas relacionados à saúde está expressa nas atividades escolares para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental na escola partícipe, na ótica das professoras unidocentes.
Articulação do ensino e da abordagem de temas relacionados à saúde nos Anos Iniciais
Esta categoria mostra como vem se articulando a abordagem da temática saúde no espaço escolar estudado. Pelo relato de duas professoras, nota-se a importância da relação da comunidade escolar com os profissionais da saúde local como uma dessas articulações.
A escola trabalha em conjunto com a saúde do município trazendo profissionais para fazer triagem em relação à saúde bucal. (Professora Tulipa).
[...] Acredito que o que se trabalha com o aluno é de suma importância para sua vida, pois a escola agrega profissionais da saúde para fazer triagem com os cuidados à saúde bucal. (Professora Bromélia).
É interessante ressaltar a parceria estabelecida entre a escola estadual investigada e a Secretaria de Saúde do município, sendo isso possível devido à existência de poucas escolas na cidade e o que torna significativo para o município e para a escola o estabelecimento desta rede colaborativa. Essa parceria acontece mesmo não sendo jurisdição da rede municipal o atendimento prioritário às escolas estaduais de ensino. Entende-se que a participação de profissionais da área da saúde do município em conjunto com a escola, para abordar questões de saúde, pode auxiliar desde cedo para construir atitudes positivas para a vida dos educandos como o direito de acesso ao serviço de saúde. O relato da Professora Tulipa denota um entendimento de que a escola também ganha centralidade como um espaço essencial para trabalhar assuntos relacionados à saúde com os alunos, que são de preocupação pública e coletiva.
Nos dois primeiros relatos, percebeu-se que os conhecimentos biológicos, como a ausência de doença ao se referir ao cuidado com a saúde bucal, têm sido uma concepção de saúde importante para as pessoas. “Embora rechaçado, este entendimento parece permanecer no imaginário não só das pessoas comuns (senso comum), mas também, dos profissionais” (Palma, 2001, p.29). Independente das professoras unidocentes transporem didaticamente diferentes definições para o que seja saúde e a sua abordagem no contexto da escola e nas aulas, conforme Marcondes (1979), o componente biológico (patrimônio genético) sempre é e deve ser considerado. Bem como o componente comportamental, que é fruto da interação com o meio através de ações inteligentes, “o que caracteriza uma qualidade de vida, condição ou estado de bem-estar, resultante do total de funcionamento do indivíduo em seu meio” (Marcondes, 1979, p.13). Para exemplificar, faz-se menção às atividades práticas (orientações e aconselhamentos) de autocuidado que fazem parte do contexto de vida das crianças e que vêm de encontro a um enfoque preventivo e promotor da saúde em relação à saúde bucal, como apontado pelas educadoras.
Esse mesmo enfoque, na seara educacional, está alinhavado com as políticas assistencialistas do governo federal brasileiro, como o Programa Saúde na Escola (PSE), as quais estão previstas em legislação nacional (Lei N° 5.692, 1971; Lei N° 9.394, 1996). Uma das características é a objetivação de incluir atividades escolares que promovam o desenvolvimento de comportamentos adequados para os indivíduos, neste caso as crianças, alcancem e mantenham a saúde, onde também sejam preconizadas a participação e colaboração de profissionais da saúde no âmbito escolar (Lomônaco, 2004). Isso, no intuito da população e profissionais compartilharem saberes e buscar um a melhoria da qualidade de vida (Wendhausen & Saupe, 2003).
A outra maneira como estão articulados o ensino e a abordagem da saúde nos Anos Iniciais faz referência às atividades desempenhadas pela escola e pelas professoras, como o desenvolvimento de projetos. Para a Professora Jasmim, as atividades de ensino, que abarcam a temática saúde, são contempladas no desenvolvimento de projetos na própria escola. Esta unidocente incitou que a metodologia de projetos é proposta pela escola como estratégia didático-pedagógica de trabalho escolar para abordar temas de relevância social. A professora não mencionou a maneira como os projetos se desdobraram e quais os assuntos relacionados à saúde eram trabalhados.
A utilização da pedagogia de projetos para trabalhar temas como a saúde pode se mostrar um mecanismo importante dentro do processo de ensino e aprendizagem. Como defendem Darido e Rangel (2005), a estruturação de projetos no ambiente escolar tem potencialidade de possibilitar uma melhor aprendizagem para os educandos. Freitas (2003) também traz uma colaboração a respeito do emprego da pedagogia de projetos, a partir da sua característica, como a aproximação do eixo social do aluno por meio do senso crítico, da pesquisa e da resolução de problemas. Esses aspectos são relevantes na perspectiva de proporcionar um entendimento mais amplo a respeito de questões que envolvam à saúde, como os seus fatores e condicionantes, relacionando com a realidade das crianças. Exemplo disso se dá ao considerar o contexto social dos alunos dos Anos Iniciais para construir diálogos mais coerentes e de acordo com cada faixa etária, diante dos diversos assuntos do cotidiano que versam a saúde.
Conhecimentos relacionados à saúde importantes para trabalhar com os alunos dos Anos Iniciais
Esta categoria reúne aspectos relevantes para serem considerados ao se trabalhar temáticas com foco na saúde para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Entre estes aspectos, está a ideia de estimular conversas com as crianças sobre:
Informações em relação ao seu corpo e o meio em que ele vive. (Professora Tulipa).
Apesar de que apenas a transmissão de informações a respeito do funcionamento do próprio corpo, a descrição das características das doenças, bem como a divulgação de hábitos de higiene, alimentação, atividades físicas e outras, não seja o suficiente para que os alunos desenvolvam atitudes de vida saudável (Zancha, Magalhães, Martins, Silva & Abrahão, 2013), entende-se que as questões sociais (como o meio em que os alunos estão inseridos), aliadas às essas informações, faz-se de grande estima para que os professores levem em conta, em especial, os contextos de vida dos seus alunos. Uma vez que, dentro da sala de aula, o professor encontra distintas realidades (sociais, econômicas, culturais, históricas e políticas) vivenciadas pelas crianças. Ademais, estima-se que conhecer sobre o seu próprio corpo, bem como as futuras mudanças que estão por vir no corpo das crianças, em virtude do crescimento e desenvolvimento humano, podem ser exploradas a partir da curiosidade dos alunos de maneira lúdica, de acordo com a maturidade pertencente a cada faixa etária.
Sendo assim, entende-se que os saberes teóricos e práticos relativos à saúde, que as crianças percebem e que são experienciados e dialogados em casa e na escola, podem ser problematizados na escola com vistas a retornar estes conhecimentos para o meio onde elas estão inseridas, pensando, quiçá, em soluções para os problemas instaurados, que podem emergir das mais diferentes realidades educacionais. Conforme Ceccim (2006, p.48), ao pensar no contexto social, na saúde e na escola, é possível estabelecer que “[...] a própria aprendizagem escolar se relaciona com o desenvolvimento da saúde individual, uma vez que se constitui em espaço de aquisição de informação sobre si, sobre o mundo, sobre a convivência social e sobre as relações sociais”.
Outro aspecto importante, mencionado por uma das professoras, é levar em conta a participação dos alunos durante os diálogos construídos em sala de aula.
No caso da turma onde eu atuo, trabalho todo ano com relatos orais, projetos promovidos pela escola e no conteúdo trabalho mais no I trimestre. (Professora Jasmim).
Acredita-se que os relatos orais permitem conhecer características que estão próximas à realidade de vida dos alunos, de tal modo que podem facilitar a conversa com os escolares desde cedo sobre o que eles sabem do assunto, tornando um exercício importante para despertar à adoção de comportamentos saudáveis no futuro. Principalmente, por compreender que os hábitos de vida construídos e vivenciados pela criança têm prevalência de se perdurar durante a idade adulta (Lara, 2013). Segundo Leonello e L’Abbate (2006, p.151), considerando a discussão para a prática pedagógica unidocente, “[...] é de suma importância a atuação consciente e crítica do educador, que articule teoria e prática vinculando à realidade dos alunos”.
Nesse mesmo pensamento, duas professoras destacam que os comportamentos saudáveis são tidos como essenciais na formação escolar dos alunos para a tomada de atitudes.
O Tema Saúde é bastante trabalhado na escola, pois observo que diariamente os professores abordam esse tema em sala de aula e fora dela, sempre que necessário, desenvolvendo assim formas de investir na formação dos bons hábitos desde a infância. (Professora Margarida).
O tema saúde é desenvolvido na nossa escola em todos os níveis de ensino principalmente nas Séries Iniciais, dentro da disciplina de Ciências visando orientar e desenvolver hábitos e atitudes que são trazidos de casa e que a escola complementa. (Professora Rosa).
Ambas professoras ainda expõem que o tema saúde faz parte do trabalho escolar de professores e da escola como uma forma de investimento para a formação discente. Esse aspecto, na perspectiva destas professoras, finda um trabalho educativo que se dá tanto pelo ensino de conhecimentos teóricos e práticos de disciplinas escolares (neste caso, apresentando maior relação com a área de Ciências) quanto pela abordagem de temas relacionados à saúde no espaço escolar, colocando o papel da escola como lugar que visa complementar conceitos oriundos da prática de vida dos educandos.
Pelos relatos das unidocentes, quanto ao papel de orientar o discente sobre hábitos e atitudes que são trazidos de casa para que a escola possa complementar sua formação, Marcondes (1972) traz uma informação importante para compreender isso. Essa mesma autora salienta que, quando uma criança entra na escola, ela já possui conhecimentos, atitudes e práticas de saúde adquiridos no lar. Muitos podem não ter base científica, necessitando de modificações (complementar conceitos na escola, que são trazidos de casa), alguns precisam ser reforçados e outros aprendidos (Marcondes, 1972). Com isso, nota-se como essencial “[...] colaborar na formação de uma consciência crítica no escolar, resultando na aquisição de práticas que visem à promoção, manutenção e recuperação da própria saúde e da saúde da comunidade da qual faz parte” (Focesi, 1992, p.19).
Com base nesses pretextos, espera-se que essa discussão do tema tenha sido um alavanque para melhor compreender o que se perpassa em diferentes realidades escolares. Da mesma forma, buscando trazer informações deste contexto investigativo à tona para problematizar este tema no cenário educacional.
Conclusões
Com base nos achados, de uma forma geral, a análise realizada a partir das concepções das professoras permitiu sinalizar que o ensino da saúde e a sua abordagem nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, na realidade escolar estudada, configura: 1) uma aproximação da escola e professoras com o serviço público de saúde, estabelecendo uma rede colaborativa e parceria com os profissionais da saúde do município; 2) a importância da participação das crianças em sala de aula por meio de relatos orais, o que facilita o diálogo de assuntos que têm relevância para a vida dos educandos; e 3) estar contemplado no desenvolvimento de projetos da escola; e 4) a escola como um importante espaço social para trabalhar conhecimentos em torno da saúde com as crianças, que são de preocupação pública e de interesse do coletivo.
Essas articulações a respeito da abordagem de temas relativos à saúde para os Anos Iniciais, analisadas a partir dos relatos das professoras unidocentes, mostram que, ao mesmo tempo, há uma preocupação e uma objetivação em estimular, desde cedo, as crianças para a adoção de hábitos e atitudes saudáveis, neste caso, como ocorreu à abordagem do tema saúde bucal. Uma das maneiras exemplificadas no estudo é o incentivo de comportamentos saudáveis para as crianças como meio de despertar para uma tomada de atitudes positivas à saúde, representando um investimento na formação dos educandos para a vida.
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Recepción: 13 Abril 2018
Aprobación: 15 Febrero 2019
Publicación: 28 septiembre 2019